O conceito de negócios sociais ainda era pouco conhecido no Brasil em 2004. Na época, as empresas concentravam suas atenções nas iniciativas de investimento social privado e responsabilidade social corporativa. Aquele foi o momento ideal para a criação da Artemísia Negócios Sociais, empresa que foi uma das disseminadoras do conceito no Brasil e desde então ajudou a capacitar 51 empreendimentos com viés social. Fundada pela Potencia Ventures, uma organização americana que busca aportar recursos em empresas e iniciativas voltadas à população mais pobre, a Artemísia ajuda a lapidar o modelo de negócios, a buscar fontes de financiamento e a colocar esses empreendedores em uma rede de contatos que facilite sua ascensão. Em entrevista ao Valor, a diretora executiva da Artemísia, Maure Pessanha, explica o conceito, sua evolução e aplicação no Brasil.
Valor: O que caracteriza um negócio social?
Maure Pessanha: É aquela empresa que, por meio de sua atividade principal, oferece soluções, produtos ou serviços com foco na população de baixa renda. O objetivo central de um negócio social é reduzir a pobreza e a desigualdade social, ao permitir que a população mais pobre tenha acesso a produtos e serviços de alta qualidade que propiciem seu desenvolvimento pleno como indivíduos. Dessa forma, as áreas prioritárias em que um negócio social deve atuar são justamente aquelas em que há carências estruturais - educação, saúde, habitação, serviços financeiros, tecnologias voltadas à assistência social.
Valor: Negócios sociais e negócios inclusivos são a mesma coisa?
Maure: Há várias correntes conceituais que tentam fazer a diferenciação, mas o fato é que negócio social ainda é um conceito muito novo, que está em evolução. De toda forma, o que diferencia um negócio social de um negócio inclusivo é a natureza do produto ou serviço que essa empresa fornece. No negócio social, as empresas precisam ter em seu 'core business' o impacto social, isso precisa estar intrínseco no produto ou serviço que ela oferece. Um exemplo de negócio social é uma empresa que fornece plataformas educacionais para pessoas com deficiência, ajudando a melhorar a aprendizagem daquele público.
Valor: Quais são as origens do conceito?
Maure: Alguns estudiosos apontam que a origem dos negócios sociais remonta aos EUA e Europa na década de 1970, quando algumas iniciativas de empreendedorismo ganharam um cunho mais social. Já nos anos 2000, os autores C.K. Prahalad (do livro "A Riqueza na Base da Pirâmide") e Stuart L. Hart ("O Capitalismo na Encruzilhada") começaram a falar na erradicação da miséria com o lucro, na co-criação comunitária de novos negócios, e o tema começou a se disseminar no meio acadêmico.
Valor: Estamos falando de um movimento híbrido que mistura elementos do segundo setor (empresas privadas) e terceiro setor (ONGs)?
Maure: Sim. As fronteiras entre o segundo e o terceiro setor estão cada vez mais tênues. Há uma mistura de ONGs e negócios, há empresas sociais que foram concebidas como ONGs, mas que no fundo são negócios. E eu diria que se você tiver uma iniciativa concebida como um mecanismo de negócios, ela terá mais chances de ganhar escala, gerar benefícios sociais, ter eficiência, eficácia e permanência.
Valor: O que faz exatamente a aceleradora Artemísia?
Maure: Oferecemos ao empreendedor a formatação do seu modelo de negócio e orientamos em relação à principais competências que precisam ser desenvolvidas. (AV)
Fonte: Valor Econômico, 19/04/2013