Devido às inovações tecnológicas que vêm sendo inseridas sucessivamente em nossa vida cotidiana, principalmente por meio da informática, a expressão “nanotecnologia na medicina” pode soar para alguns assunto já bastante comentado e discutido, juntamente com algumas de suas definições, alguns de seus marcos científicos e históricos - inclusive como não recordar aqui a clássica palestra de Richard Feynman intitulada: “Há muito espaço lá embaixo.” 1 Porém, existem aspectos econômicos atuais e importantes associados à nanotecnologia que merecem a nossa atenção, principalmente em relação à área da saúde e a oportunidades de negócio que podem ser desenvolvidas aqui no Brasil.
Muito embora o desenvolvimento da nanotecnologia na medicina não responda diretamente à Lei de Moore, sua presença vem aumentando consideravelmente ao redor do mundo e já responde por uma boa parte das pesquisas aplicadas e inovações na área biomédica. Assim são as inovações para o diagnóstico, prevenção e o tratamento de diversas patologias com elevado impacto sanitário e social como, por exemplo, diversos tipos de câncer, malária, HIV, tuberculose, diabetes, infecções, cardiopatias, entre outros exemplos, associados ou não a diversos serviços móveis que estão surgindo e revolucionando toda a área, graças às fronteiras alcançadas por meio da mobilidade eletrônica. 2, 3, 4
Pesquisa realizada em 2010, pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH), apontava que mais de 50% das inovações biomédicas seriam do setor nanotecnológico. Segundo o Projeto de Nanotecnologias Emergentes, em março de 2011 já estavam disponíveis no mercado mais de 1.300 produtos de base nanotecnológica. Para o ano de 2015, existem estimativas de que 80% do mercado de US$ 1,5 trilhão (excluindo-se os semicondutores e eletrônicos) corresponderão a aplicações de nanotecnologia para o segmento farmacêutico e saúde humana. 4, 5, 6
Nos gráficos seguintes podemos observar como era a distribuição do mercado mundial de nanotecnologia por setor de atividade em 2007 e uma projeção desse mercado para 2012, conforme estudo da Cientifica Ltd., publicado em 2008.
[gráfico de nanotecnologia na medicina indisponível]
Adaptado de Panorama nanotecnologia, 2010 - ABDI.
Segundo consultores da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), o valor global de produtos nanotecnológicos totalizou no ano de 2010 cerca de U$ 383 bilhões. Ainda com base nesses dados, o Brasil apresentou uma reduzida participação de apenas 0,02%, ou seja, cerca de R$ 115 milhões referentes a produtos de base nanotecnológica originalmente brasileiros, ou seja, sem levar em conta as tecnologias trazidas de matrizes para aplicações no país e nem produtos importados. 7
Porém, com certo otimismo, dados do Ministério da Ciência e Tecnologia referentes a 2011 apontam um total de 150 empresas brasileiras desenvolvendo algum produto ou prestando serviços com nanotecnologia inserida (produção de nanomateriais, revestimentos, tecidos, medicamentos, cosméticos e outros segmentos). Além disso, a nanotecnologia está recebendo incentivos do Governo Federal. Esse tema foi inclusive incluído no Plano de Ação 2007/2010: Ciência, Tecnologia e Inovação (Pitce) e na Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP). 7
Esse crescente interesse pelo desenvolvimento de produtos a base de nanotecnologia na medicina (nanopartículas, nanotubos, dendrímeros, etc.) é devido em grande parte por suas excelentes vantagens tecnológicas quando comparados com produtos convencionais. Na área farmacêutica, por exemplo, essas vantagens estão associadas a um melhor perfil de distribuição de fármacos no organismo, ao direcionamento de fármacos a órgãos específicos (o que reduz toxicidade e efeitos adversos), a possibilidade de liberação controlada/modificada de agentes terapêuticos com potencial para reduzir a freqüência e o número de doses necessárias, tornando a terapia medicamentosa muito mais eficiente e conveniente aos usuários de medicamentos, principalmente para portadores de doenças crônicas, em que administração contínua e repetitiva do fármaco é requerida. 8
Contudo, outro fator relevante que tem justificado investimentos com P,D&I em nanotecnologia na medicina, é a recente e progressiva expiração de algumas patentes farmacêuticas e as sérias dificuldades em manter os elevados custos e longo tempo associados à investigação (pré-clinica e clínica) e produção de novos fármacos. Nesse sentido, a tendência para esse setor será adotar estratégias de baixo risco e alta recompensa, o que significa desenvolver novas formulações (liberação controlada/modificada, etc.) com nanotecnologia agregada e procurar por novas indicações terapêuticas a partir de medicamentos já conhecidos e aprovados, como são os medicamentos genéricos e algumas moléculas oriundas da biotecnologia (insulina, calcitonina, vacinas, etc.). 9
Inclusive é interessante observar que desde 2008, a oferta de medicamentos genéricos tem aumentado, justamente quando teve início ao vencimento de várias patentes farmacêuticas. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró Genéricos), nos próximos anos, cerca de outras 17 patentes de remédios perderão a proteção aqui no Brasil. 10
Referências para consulta:
1. There's Plenty of Room at the Bottom. An Invitation to Enter a New Field of Physic.
2. GlicoOnLine.
3. Med Apps.
4. Nanotechnology: Intelligent Design to Treat Complex Disease.
5. Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial - ABDI. Panorama nanotecnologia.
6. Project on Emerging Nanotechnologies.
7. Sistema FIRJAN: Nanotecnologia e a Competitividade da Indústria Brasileira.
8. Fate of Polymeric nanocarriers for Oral Drug Delivery.
9. Novel Drug Delivery Critical to Pharma’s Future.
10. Pró-Genéricos.