Muitos jovens profissionais de saúde, foram atraídos pelo mercado de ações previamente ao Crash de 2008 e outros pela alta de 2009, contudo frente a o cenário atual, em que a grande maioria já amarga algum tipo de perda, muitos destes jovens investidores já começam a rever suas estratégias de investimentos e repensar se é viável investir na bolsa brasileira. Uma luz perante este caos é o médico e investidor Lírio Parisotto, que se tornou um dos grandes investidores em ações no Brasil, após investir grande parte de seus rendimentos obtidos na Videolar, líder no mercado nacional de produção de CD's e DVD's, no mercado acionário, o que o levou a transformar os R$200 milhões inicialmente investidos, em aproximadamente R$1,8 bilhão, valor este que varia conforme a variação das ações do investidor. Convicto da filosofia fundamentalista de investimento, Lírio Parisotto descarta a possibilidade de ganhos para o curto prazo no investimento em bolsa e enfatiza o foco no pagamento de dividendos, o que faz de fato a diferença durante estes períodos de crise. Segue abaixo interessante matéria com o investidor sobre sua estratégia e visão para lidar com esta crise em 2011.
Esqueça o dia a dia e aposte nos dividendos, diz Lírio Parisotto
Lírio Parisotto: jovens querem ficar ricos rapidamente na bolsa, mas essa é a fórmula para empobrecer rapidamente
As palestras sobre aplicação na bolsa de valores do fundador da produtora de DVDs Videolar e um dos maiores investidores em ações do país, Lírio Parisotto, são invariavelmente lotadas. Por vezes, as pessoas ficam espremidas do lado de fora, para ouvir o que ele tem a dizer. Todos querem saber como o ex-agricultor e ex-seminarista de origem humilde conseguiu ganhar tanto dinheiro. "O segredo do mundo é viver de dividendos, a valorização é só um 'plus'", resumiu, durante entrevista ao Valor ontem pela manhã, em São Paulo, enquanto se preparava para palestra à noite na feira de finanças pessoais Expo Money.
A opinião de Parisotto quanto à crise econômica atual é clara: "é uma bela oportunidade para comprar, os papéis estão em promoção", afirma. "Adoraria ter mais dinheiro para poder comprar mais". Mas ele emenda o ensinamento com um lembrete: "Toda queda tem um limite, as crises têm começo, meio e fim; em que fase estamos?", questiona. E ele mesmo responde: "Estamos no meio, mas não me pergunte quando é o fim, porque ninguém sabe", diz. "Se as pessoas tentarem acertar, terão 50% de chance de errar e 50% de chance de acertar".
Ele lembra que em toda crise as pessoas dizem que "desta vez é diferente". "Sabia que essas são as palavras mais caras para o mercado financeiro?", questiona. "A verdade é que sempre foi assim, por isso que eu digo: se o preço do papel subir, fique feliz; se cair, continue feliz", brinca. "Me diz uma coisa, se o dólar for a R$ 4 as pessoas vão morrer?", ironiza.
O criador da Videolar, que integra o grupo de empresários do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), aproveita para dar uma opinião sobre o câmbio. Para ele, o dólar precisa ir a R$ 2. Caso contrário, a indústria brasileira vai "ser destruída".
Parisotto é hoje gestor do fundo de investimento em ações Geração L. Par, cujo patrimônio atual é de R$ 2,250 bilhões. Ele próprio tem uma participação de 80%. Na carteira, há papéis de instituições do setor financeiro ou ligadas a ele, como Cielo, Redecard, Bic Banco e Banco do Brasil, além, é claro, de companhias elétricas, como Celesc, Eletropaulo e Transmissão Paulista.
Até o dia 20 deste mês, o fundo acumulava uma perda em seis meses de 14,83%, enquanto o Índice Bovespa tinha queda de 15,70% no mesmo período. Parisotto explica que a rentabilidade da carteira foi prejudicada pela distribuição de dividendos, que é contínua. "O valor distribuído não entra na conta", diz.
O importante para todos os investidores de bolsa, afirma, é não perder a cabeça. E cita um exemplo: "No ano passado, a Redecard caiu 21,63%, mas hoje está subindo 34,90% (até o fechamento de quarta-feira)", diz. "A Cielo teve perda de 5,55%, mas agora tem alta de 39,84%; imagine se eu tivesse vendido!".
Ele ainda revela que, gradualmente, está aumentando a posição em ações da Usiminas e CSN, que, neste ano (até quarta-feira), acumulam desvalorização de 35,44% e 36,28%, respectivamente.
"O problema do investidor pessoa física é a instabilidade emocional", opina, ao aconselhar as pessoas que não lidam bem com o risco a não entrarem "nesse negócio". E acrescenta que o segredo é ter paciência. "Esses jovens querem ficar ricos rapidamente, mas essa é a fórmula para empobrecer rapidamente", afirma. "Eles começam a se sentir seguros e a arriscar; é um perigo."
Defensor declarado do "buy and hold" (comprar as ações e mantê-las em carteira), Parisotto afirma que, depois de ler mais de cem livros sobre investimento em ações, chegou a uma conclusão: o importante é investir em empresas que pagam dividendos acima da média. "É verdade que, quando a bolsa de valores sobe, esses papéis sobem menos, mas quando ela despenca, eles se depreciam menos", diz.
Parisotto começou a aplicar em ações aos 18 anos de idade, em 1971. Logo de cara, perdeu o equivalente ao valor de um carro. Anos depois, em 1986, teve um prejuízo de milhares de reais.
Quando olha para trás, ele reconhece que seus erros foram entrar no pico da bolsa e investir em papéis que não conhecia a fundo. "Apliquei quando o mercado estava em alta e não avaliei as empresas", diz. Mas esse não foi um período de todo ruim, porque ele nunca mais cometeu os mesmos erros. Moral da história, diz, é que não é porque o investidor perdeu dinheiro que o mundo acabou.
Há cerca de três anos, o investidor deixou a diretoria executiva da Videolar, porque a tarefa estava "começando a fazer mal para a saúde". "É duro ter de bater o ponto e atender funcionários e clientes complicados", conta. "A morrer enfartado, prefiro morrer assassinado", brinca. Mas Parisotto não abandonou por completo a empresa. Tornou-se presidente do conselho de administração. Além disso, entrou para o mundo da política. É segundo-suplente do senador Eduardo Braga (PMDB-AM).
Parisotto afirma que, aos 26 anos, virou um "ex-pobre". Aos 57 anos, não esconde o gosto pela bolsa. "Me divirto, não trabalho", revela. "Para mim, é uma opção de vida, não uma obrigação."
Foto: Lírio Parisotto, Revista Exame, 10/12/2010
Fonte: Valor Econômico On-Line, Karin Sato, 22/09/11