O setor de Saúde vive uma onda de revolução tecnológica, representada por uma sopa de letrinhas. Aliar sistemas de gestão (ERPs - Enterprise Resource Plannig) ao Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP), aos Sistemas de Informação em Radiologia (Radiology Information System, RIS) e Sistemas de Comunicação e Arquivamento de Imagens (Picture Archiving and Communication System, PACS) representa uma promessa de facilitação, trazendo mais eficiência operacional, financeira e de cuidado com o paciente. Mas para chegar ao estado da arte, é preciso que todos esses sistemas conversem entre si - o que só é possível com interoperabilidade.
"Nesse modelo antigo, no século 19, de guias e de exames em papel, o nome do paciente é digitado, em média, 20 vezes", explica Renato Sabbatini, professor doutor, diretor da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS), vice-presidente da HL7 no Brasil e consultor em interoperabilidade.
O especialista entende que, apesar de o uso de guias e impressão de exames ainda ser prática recorrente, diversos hospitais, operadoras e laboratórios já adotam tecnologias que digitalizam os processos. Contudo, essas soluções precisam de adaptação para que diferentes entidades consigam intercambiar informações. "Há o caso até mesmo de hospitais que têm um PEP com um fornecedor e um PACS com outro que, simplesmente, não se comunicam. O médico precisa sair de um sistema para entrar em outro para acessar a informação dos pacientes", contextualiza.
Em um sistema integrado e interoperável entre os diferentes players, isso não é preciso. "A interoperabilidade é o futuro do setor de Saúde. Não tem como não ser interoperável", acredita.
Para a interoperabilidade sair do discurso e ir para a prática é preciso que hospitais, laboratórios, clínicas, operadoras e demais agentes de saúde incorporem protocolos e padrões vendor-neutral - aqueles que não possuem ligação com uma marca específica - para que todos os sistemas se conversem automaticamente, sem a necessidade de intervenção humana. "Se não houver interoperabilidade, é preciso copiar os dados, manualmente, de um sistema a outro", alerta Sabbatini. Veja quais são eles:
- HL7: Health Level Seven International é um conjunto de normas internacionais que permite o intercâmbio de dados de saúde por meio de mensagens;
- CID10: cadastro de doenças
- LOINC: Logical Observation Identifiers Names and Codes é utilizado para padronizar exames
- PDF: formato padrão para laudos
- DICOM: Digital Imaging and Communications in Medicine, no caso de imagens
- TISS/TUSS: o padrão de Troca de Informação de Saúde Suplementar (TISS) e a Terminologia Unificada Saúde Suplementar (TUSS) são essenciais para o envio de cobranças aos planos de saúde. "Adotado em 2007, esse padrão está na versão 3 e é de uso obrigatório entre os provedores de serviço e os respectivos pagadores", explica.
Segundo o especialista, no futuro haverá a interoperabilidade de dados clínicos, graças ao Clinical Document Architecture (CDA). "Ele é um padrão complexo, que precisa também do HL7, e o governo vai adotar para que os sistemas conversem entre si, tanto saúde suplementar quanto o SUS. Hoje é isolado", explica. Nesse caso, por exemplo, caso um paciente atendido pela Unimed Campinas sofra um acidente em Recife e for assessorado pela Unimed local, todas as suas informações - PEP, patologias, nome de médicos - poderão ser acessados. "Mesmo sendo paciente de outro sistema", reforça. O movimento será motivado por órgãos locais e mundiais, como Ministério da Saúde e Organização Mundial da Saúde,que pouco a pouco tornam obrigatórios os processos. "Desde 19 de julho é obrigatório aos laboratórios que usam os resultados do exame em PDF assinar digitalmente, por meio do certificado digital, o e-CPF. Não é questão de querer ou não", finaliza.