Uma das falas de abertura foi feita pelo Dr. Lincoln Moura, Senior Manager da Accenture e presidente da IMIA (International Medical Informatics Association), e em seguida o Diretor do CGI Alexandre Annenberg Netto, falou sobre a importancia e resultados da pesquisa.
A pesquisa TIC SAÚDE 2013 levou 2 anos para ser concluída. Foram coletados dados de mais de 2000 estabelecimentos de saúde cadastrados no CNES (Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde) e de mais de 4 mil profissionais médicos e enfermeiras. Os tipos de estabelecimento considerados na pesquisa foram: 1. Sem internação (urgencia e ambulatorial) 2. Com internação (que foram divididos em serviços de saúde com até 50 leitos ou com 50 leitos ou mais).
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Os resultados mostram uma presença marcante das TICs na maioria das organizações de saúde entrevistadas: 94% tinha computadores e 91% tinha internet. Entre elas, um déficit maior foi encontrado em organizações sem leito de internação, em geral com foco em atendimento básico e ambulatorial. Outro achado da pesquisa foi a disparidade entre o acesso às TICs nos estabelecimentos do setor público e privado e também nas diferentes regiões brasileiras, com privilégio natural dos mais ricos.
A pesquisa avaliou também a presença dos profissionais de TI em Saúde no Brasil, e foi encontrada uma enorme necessidade desses profissionais. Apenas 41% das organizações tinha algum departamento de tecnologia da informação, sendo que esse eles estavam concentrados no setor privado e nos maiores hospitais (75% dos estabelecimentos com mais de 50 leitos tinha departamentos de TI).
Sobre quais dados esses estabelecimentos tem armazenados eletronicamente, a pesquisa encontrou: dados de cárater administrativo (admissão, registro do paciente etc) estão mais disponíveis eletronicamente, dos que as informações de natureza clínica (anotações de enfermagem, atendimentos, histórico do paciente).
Outro dado surpreendente foi que 99% dos médicos e enfermeiros tem acesso à internet, apesar de isso nem sempre significar que eles utilizam as TICs em seu ambiente de trabalho. 63% dos médicos tem acesso ao computador no trabalho, e 60% tem acesso à internet. Em relação à população, esses 99% são bastante privilegiados em relação ao 49% da população em geral com mais de 10 anos no Brasil que tem acesso à internet, de acordo com o CGI.
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Entre as principais reclamações dos profissionais para que a TI em Saúde se desenvolva estavam a falta de prioridade por políticas publicas, a falta de capacitação de profissionais e falta de infra-estrutura adequada disponível. Ainda, 75% dos médicos e 71% dos enfermeiros disse que a falta de treinamento é um fator importante que impede o desenvolvimento do setor.
Após a apresentação dos resultados da pesquisa, houve um debate entre o Diretor do Departamento de Informática do SUS - DATASUS, Augusto Gadelha; David Novillo Ortiz, da Organização Pan-Americana da Saúde – Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS); Elettra Ronchi, da OCDE; e Pablo Tactuk, Coordenador do Grupo de Trabalho sobre medição em TIC da Saúde da Conferência Estatística das Américas (CEA/CEPAL), e moderada pela Professora Heimar Marin, Titular de Informática em Saúde e Vice-Diretora da Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). O debate foi denominado: “O potencial das tecnologías de informação e comunicação para o desenvolvimento do setor da saúde”
Uma das frases iniciais do debate proferida pela Profa. Heimar Marin foi: ”Para solucionar os problemas de TI em Saúde do Brasil, temos um desafio muito grande na formação de profissionais, pois não adianta comprar um prontuário americano ou europeu, porquê o prontuario eletrônico não é um programa, é um processo”.
Heimar discursou também sobre a importância da segurança do paciente e erros médicos, bem como sobre os eternos desafíos da interoperabilidade.
Pesquisas similares foram realizadas em outros 9 países da OCDE e a organização vai começar a comparar os dados desses países. Elettra Ronchi abriu sua fala dizendo que já passou há muito tempo a fase da pergunta “Devemos adotar TI em Saúde?”, e estamos em um momento que os governos já perceberam a importancia económica desse setor e dessas tecnologías, citando o exemplo dos Estados Unidos com o Meaningful Use e Obamacare, e o exemplo europeu de varios países desenvolvendo políticas públicas para o setor. “Mas para saber para onde ir agora, nós precisamos de métricas, porque precisamos garantir que há acesso às tecnologías de saúde e pra isso temos que identificar onde há gaps e onde temos que investir.
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Elettra disse que ficou impressionada com a porcentagem de médicos e enfermeiras com acesso à computadores e à internet. Disse que a informação de que apenas 21% dos médicos tem registros eletrônicos sobre imunização de seus pacientes é uma informação muito relevante para saúde pública, por exemplo, e um dos importantes usos das pesquisas para o planejamento de políticas públicas.
Em seguida, David Novillo, da OPAS/OMS, disse que realizou uma pesquisa com 63 países sobre TI em Saúde, e os resultados encontraram 3 grandes barreiras para a adotação de TICs em Saúde, por ordem de prioridade: 1. Falta de recurso humano capacitado (78% dos países entrevistados disseram que isso era uma barreira); 2. Falta de infra-estrutura adequada – 76%. 3. Falta de recurso financeiro – 60%.
Pablo Tactuk focou seu discurso na importância do alto escalão governamental priorizar a TI em Saúde. Augusto Gadelha, que emendou o discurso, falou sobre a complexidade do setor de saúde especialmente no Brasil, com o Sistema Único de Saúde e a complexa divisão de responsabilidades e dinheiro entre as 3 esferas de governo. Parabenizou a pesquisa e estimulou que ela ocorra com periodicidade a partir de agora. Disse que área de TICs em Saúde está em ebulição no momento no mundo todo, então não poderia haver melhor momento para a pesquisa. Se defendendo da cobrança de políticas públicas e ao mesmo tempo expondo algunas verdades do Brasil, Gadelha disse que existem sim políticas públicas, mas que não são continuadas. E com a próxima pesquisa, uma eventual segunda edição, a comparação poderá dizer se os investimentos priorizados pelo governo para o setor estão dando certo ou não.
Augusto Gadelha falou sobre o cartão único de saúde e sobre a demora do processo: “São necessários varios anos em qualquer país para criar esse sistema lidando com padrões, interoperabilidade, segurança do paciente etc”. Reforçou que nos EUA foram gastos 20 bilhões de dólares do governo para a Informática em Saúde, 8 bilhões de libras esterlinas na Inglaterra, “e no Brasil o pessoal se assusta quando falamos que gastamos 200-300 milhões de reais em 10 anos para desenvolver uma base de dados e um sistema de informação em saúde”, disse Gadelha.
Heimar retornou sua fala preocupada com a sustentabilidade de um projeto tão grande, complexo e caro. Elettra falou sobre privacidade e o medo que as pessoas tem do uso errado dos seus dados, e sobre integração de sistemas. Disse que o Brasil tem uma vantagem sobre outros países, pois não tem muitos softwares antigos instalados nos estabelecimentos, então tem uma oportunidade conseguir integração e padronização mais facilmente.
David Novillo disse que há um déficit importante de informação sobre o uso de tecnología em saúde. “Ninguém tem dúvidas do benefício do uso da TICs em Saúde, mas ninguém tem dados reais sobre os benefícios, provavelmente porque é algo muito complexo e difícil de mensurar”.
Questionei sobre as opções para a formação de profissionais, já que esse era a maior barreira para que cada vez mais o setor se desenvolvesse. Elettra respondeu que para haver melhor formação, é necessário maior reconhecimento para as atuais certificações e o desenvolvimento de certificações internacionais. “Isso pra não falar dos profissionais de análise de dados e big data que serão necessários muito em breve pra tudo isso”.
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