faz parte da divisão Informa Markets da Informa PLC

Este site é operado por uma empresa ou empresas de propriedade da Informa PLC e todos os direitos autorais residem com eles. A sede da Informa PLC é 5 Howick Place, Londres SW1P 1WG. Registrado na Inglaterra e no País de Gales. Número 8860726.

@StephenKanitz: Por quê o seguro-saúde é um conceito falido?

Os custos médicos e de saúde estão aumentando assustadoramente no mundo todo. Nos Estados Unidos crescem 15% ao ano e já correspondem a 15% do PIB, e com o envelhecimento da nossa população um dia será o mesmo valor no Brasil.

Isto não significa que médicos ganharão mais com este crescimento, pelo contrário. Médicos que já recebem mal vão receber cada vez menos e terão problemas médicos cada vez mais difíceis nas suas mãos para resolver. Isto já vem ocorrendo nos últimos 10 anos no Brasil e é a razão da deterioração do atendimento geral em medicina.

Honorários médicos são cada vez mais uma parcela menor do custo de medicina, o grosso dos dispêndios vai para hospitais, remédios, exames clínicos, serviços de enfermagens e seguros contra erros médicos. E no fundo, todos estes agentes concorrem entre si neste orçamento geral cada vez mais limitado.Culpar as empresas de seguro-saúde ou o governo por esta situação é não entender corretamente o problema. E por não entenderem o problema, a maioria das medidas tem sido no sentido de manter uma constante pressão para redução de custos, o que só piora a situação.Precisamos entender o problema real por trás destes problemas, porque atualmente médicos, hospitais, laboratórios e seguros-saúde estão numa guerra de todos contra todos, cada um tentando repassar o prejuízo para o outro. NINGUÉM está ganhando dinheiro nesta área crítica para o futuro da humanidade, ao contrário do que a maioria dos intelectuais deste país acredita.

As companhias de seguro estão tecnicamente quebradas, no sentido de que não estão provisionando os custos médicos que terão no futuro com seus clientes à medida que vão envelhecendo.

Muitos vivem no regime de caixa e não no regime de competência, o mesmo erro do nosso sistema de previdência. Não estão levando em conta que velhos gastam de 8 a 30 vezes mais do que gasta um jovem, então não se surpreenda quando seu seguro-saúde quebrar justamente quando você mais precisar dele.

Estima-se que 50% do orçamento médico durante uma vida é gasto nos últimos 2 a 4 anos de vida, nada disto está provisionado.

Não resolvido este problema grave, a qualidade do atendimento médico neste país cairá continuamente, como já está caindo, razão da minha preocupação que é compartilhada por todo cidadão brasileiro.

O Conceito de Seguro-saúde mudou.

O cerne do problema é o conceito de seguro-saúde.

Seguro-saúde, seja  governamental ou privado, não tem o mesmo sentido como antigamente,  com os contínuos avanços da medicina.

Antigamente, poucos tinham doenças que poderiam ser de fato curadas.  A maioria das doenças era incurável, por isto 50% dos custos médicos eram gastos nos últimos dois anos de vida.

Na época, seguro-saúde era poupar ao longo da vida para poder pagar pela doença que no fundo o levaria daqui. Por isto, os primeiros a entrarem no ramo de seguro-saúde foram os bancos, porque era mais uma questão financeira do que médica. Eles recebiam as mensalidades ao longo dos anos e só devolviam a maior parte no fim da vida do segurado, nem precisavam entender muito de medicina.

Os avanços na medicina mudaram esta lógica do seguro-saúde.

Hoje, 80% terá  as chamadas doenças sérias, caras e de longo tratamento como câncer e coração. Ou seja, não haverá seguro-saúde que aguentará sucessivas doenças sérias e caras, mas que agora salvam o cliente.

Mais dia menos dia, todos nós teremos uma doença séria e cara. Portanto, não faz sentido pagarmos enormes quantias em dinheiro ao seguro-saúde para recebermos de volta as mesmas enormes quantias.

O famoso cálculo atuarial, onde todos pagam pelos tratamentos caríssimos de alguns, não vale mais. Todos nós teremos eventualmente um tratamento caríssimo.

Para que pagar custos administrativos das companhias de seguros, comissão de venda, despesas  de fiscalização, custos de inadimplências, fraudes médicas e ainda pagar os “lucros exorbitantes” de empresas de seguro-saúde segundo alguns, se todos nós teremos as mesmas doenças graves e custosas nas nossas vidas?

No fundo o que mudou é que não estamos comprando mais saúde, e sim longevidade.

Longevidade e Seguro-saúde são dois conceitos diferentes.

Fonte: Blog do Stephen Kanitz, 28/09/2009 (bit.ly/rXXtC4)