O ano de 2022 foi marcado por incertezas e desafios, contudo, trouxe também diversos aprendizados com relação à flexibilização da COVID-19. Além disso, a saúde suplementar alcançou marcos importantes e atingiu o mesmo patamar de 2014, ao encerrar o ano com mais de 50,2 milhões de beneficiários de planos de saúde, conforme dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), demonstrando resiliência em todo o Brasil e mantendo um nível de alta, mesmo com todos os percalços da economia.
O mercado de saúde teve, ainda, um ano de intensas mudanças regulatórias, movimentações, pressão inflacionária, crise de desabastecimento de alguns insumos, avanços na medicina, surgimento de novos surtos de doenças e muitos outros desafios e oportunidades, conforme elencados abaixo.
Ressarcimento ao SUS
Mais de 500 mil atendimentos de beneficiários no Sistema Único de Saúde (SUS) foram notificados às operadoras, totalização cerca de R$ 945 milhões que foram repassados ao Fundo Nacional de Saúde, no âmbito do processo de Ressarcimento ao SUS, mantendo o patamar dos últimos anos de aproximadamente R$ 1 bilhão/ano repassado aos cofres públicos.
Inclusões no rol de procedimentos
A inclusão de 49 itens também foi um dos principais destaques de 2022 no setor de planos de saúde. Ano passado, foram feitas 15 atualizações, através das quais foram incluídos, dentre procedimentos, medicamentos, indicações ou ampliações de uso, um total de 49 itens.
Entre eles, o rol recebeu importantes atualizações como o teste rápido para diagnóstico da COVID-19; teste para a doença Monkeypox; transplante de fígado; quimioterápicos orais; métodos para tratamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA); e fim do limite para número de consultas com terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e psicólogos.
Fusões e aquisições no mercado da saúde
A consolidação no mercado da Saúde Suplementar segue ocorrendo, tanto é que a cada 10 anos, aproximadamente, o número de Planos de Saúde com beneficiários ativos encolhe 30%. Neste sentido, a busca por eficiência, com redução dos desperdícios e controle de custos, fez com que empresas de diferentes segmentos (operadoras, laboratórios, clínicas, hospitais e etc), seguissem adquirindo outras companhias. Nota-se também um forte movimento de parcerias, criando novas empresas visando aumento de margem operacional e controle de custos.
Sobre as startups, os aportes em empresas brasileiras até agosto representaram 127,49 milhões de dólares de acordo com o Distrito HealthTech Report. Especialistas de mercado apontam que por conta da crise econômica, a alta de juros e disparada da inflação mundial, investidores se tornaram mais criteriosos e cautelosos que outrora, mas a tendência é de investimento ainda maior em 2023 com a estabilidade do mercado global de saúde.
Além disso, este ano, considerando o mercado global, há uma tendência de alta nos quesitos de fusões e aquisições, especialmente pela entrada de novos players que habitualmente não trafegavam no segmento de saúde. Em 2022, o aumento das taxas de juros e o espectro de uma desaceleração econômica fizeram com que grandes investidores olhassem para o cenário básico das empresas com uma lente mais refinada, ou seja, com maior cautela, o que refletiu numa desaceleração no que tange a fusões e aquisições.
Resultado das operadoras de planos de saúde
O ano de 2022 impôs diversos alertas e ao mesmo tempo lições ao setor de saúde como um todo. As operadoras registraram, no acumulado dos nove primeiros meses do ano passado, um prejuízo de R$ 3,4 bilhões contra um lucro de R$ 2 bilhões no mesmo período de 2021, segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
Considerando o resultado operacional, a perda no acumulado do ano chega a R$ 10,9 bilhões, sendo que, entre janeiro e setembro de 2021, o setor havia apurado um resultado operacional positivo de R$ 600 milhões. Para efeitos de comparação, antes da pandemia, no acumulado dos nove primeiros meses de 2019, o resultado líquido do setor de planos de saúde somou R$ 8,5 bilhões e a taxa de sinistralidade no setor atingiu 93,2% no terceiro trimestre deste ano, um incremento de 3,55 pontos percentuais. Assim, considerando a média acumulada no ano, o indicador ficou em 90,3%. Em 2019, antes da pandemia, a sinistralidade foi de 86,77%.
A combinação desses números, associada a uma pressão inflacionária e a mudança de alguns marcos regulatórios, como por exemplo, a questão do rol taxativo/exemplificativo e o aumento do piso salarial da enfermagem, irão impor um cenário extremamente desafiador para o setor em 2023.
Comorbidades e doenças crônicas
Dados do VIGITEL (vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico), estimam que nos próximos anos haverá um aumento no Brasil de pessoas com doenças crônicas como diabetes e obesidade, o que resultará num agravamento importante no cenário das carteiras dos planos de saúde, em especial, daquelas que possuem a faixa etária mais elevada, como por exemplo as autogestões. Desta forma, se não houver políticas públicas no âmbito do SUS e o investimento necessário das operadoras de saúde em medicina preventiva, a expectativa é que o número de brasileiros com alguma doença crônica possa pular de 10% para 30% em 2030.
Teleconsulta segue em alta
Em evidência desde a chegada da COVID-19 no Brasil, a Teleconsulta deixou de ser vista como algo pontual e passou a figurar como parte definitiva da solução dos sistemas de saúde no Brasil, ampliando para outras especialidades médicas e passando a fazer parte da rotina dos pacientes brasileiros e de outras profissões na área da saúde, como enfermagem, farmácia, fisioterapia, entre outras, regulamentada através de uma portaria promulgada por diversos conselhos de profissionais de saúde, inclusive o CFM (Conselho Federal de Medicina).
Ainda em relação ao advento da telemedicina, o mercado de saúde vem adotando o modelo de pronto socorro virtual, gerando maior comodidade e melhorando o acesso dos pacientes aos profissionais de saúde em geral.
Orçamento do mercado de saúde em 2023
O cenário que se avizinha é desalentador, uma vez que as expectativas para 2023 neste setor não são animadoras, em razão de cortes seguidos no orçamento, havendo, provavelmente, impacto na saúde suplementar. O programa FARMÁCIA POPULAR, por exemplo, encolheu significativamente do ponto de vista orçamentário, o que fará com que muitos beneficiários da saúde suplementar não tenham a aderência esperada ao tratamento medicamentoso.
Diante da reflexão e retrospectiva até o momento, por onde o mercado vai caminhar na busca por pavimentar caminhos que levem a mudanças de paradigmas no setor da saúde?
Controle dos custos assistenciais
Na busca de diminuir custos, ou ao menos controlá-los, a verticalização dos serviços de saúde se apresenta como um caminho importante, aliás, é nessa direção que o mercado está seguindo, com operações que tradicionalmente sempre foram adeptas do modelo de rede credenciada, partindo para um modelo misto de prestação de serviços e verticalizando suas ações.
Não podemos esquecer o investimento em tecnologia por parte das instituições de saúde, pois cada vez mais surgem startups oferecendo novas possibilidades e grandes corporações tradicionais de tecnologia também estão se movimentando para ampliar o portfólio de soluções e servirem de aliadas para os planos de saúde na busca da sustentabilidade.
Controle dos custos administrativos
Outro fator importante na sustentabilidade econômica dos planos de saúde, passa pela redução dos custos operacionais e com recursos humanos. Nesse sentido, a robotização de vários processos tem se apresentado como um caminho importante, tendo como objetivo principal otimizar o esforço operacional interno com consequente redução de mão de obra humana.
A especialização do time interno, através de capacitação, ou até mesmo a terceirização dos serviços com empresas especializadas em saúde são caminhos que podem ser interessantes, sobretudo quando se fala na terceirização associada à possibilidade de compartilhamento de serviços, porém, faz-se necessário um grau de maturidade operacional muito grande, tanto da operadora como do prestador de serviço.
Inteligência Artificial e Big Data
O uso de Inteligência Artificial e Big Data presumem o aprendizado com o histórico de comportamento da carteira de beneficiários da saúde suplementar, podendo gerar um potencial de ganho imensurável à medicina preventiva e qualidade de vida ao beneficiário, que refletirá na diminuição da sinistralidade do plano de saúde.
Cartão de desconto
Um segmento que a cada dia surge novos interessados, que já possui uma massa significativa de usuários (algo em torno de 9 milhões de pessoas utilizam o conceito). Empresas que oferecem o produto tem sido vista como um caminho alternativo para os cidadãos que não tem condições de pagar um convênio médico, mas também não querem ficar totalmente dependente do SUS, o que em tese tende a crescer devido ao fenômeno que alguns chamam de “elitização da saúde”, resultado da pressão inflacionária no segmento, estagnação econômica, desvalorização cambial em alguns momentos e não recomposição salarial do coletivo empresarial.
Saúde Digital
Para finalizar, o investimento em Saúde Digital tende a crescer neste ano, com foco na interoperabilidade entre sistemas, construção de grandes repositórios em cloud, expansão e consolidação da teleconsulta, além da promoção e adesão ao conceito paperless. Por fim, a geração de valor por meio da extração de dados de mundo real (RWE) visando uma melhor performance, tanto do ponto de vista de custo, como, claro, na melhora da qualidade de vida do paciente, também se destaca como uma das tendências para o mercado de saúde em 2023.
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Rodrigo Garcia é Head de Mercado e Produto no Grupo Benner, empresa que disponibiliza informações por meio de softwares e processos com o objetivo de revolucionar os negócios.