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Qual é o perfil dos brasileiros que vão fazer MBA no exterior ?

Quem são os brasileiros que fazem MBA no exterior

  

Frederico Ferreira deixou a carreira de analista de private equity para cursar o MBA em Wharton

Aos 25 anos, Frederico Ferreira decidiu fazer uma pausa em sua carreira como analista de private equity para investir em um MBA no exterior. Alguns anos de experiência no mercado financeiro e a vontade de crescer nessa área levaram o jovem a buscar conhecimentos mais aprofundados em gestão e finanças. Em 2009, Ferreira se candidatou a duas das mais importantes escolas de negócios do mundo: as americanas Harvard Business School e The Wharton School. Aprovado em ambas, escolheu a segunda. Fez as malas e, unindo recursos próprios a um financiamento concedido pela própria universidade, mudou-se para os Estados Unidos para uma temporada de estudos de dois anos.

Jovem, proveniente do mercado financeiro e com até sete anos de experiência profissional, Ferreira tem o perfil típico do estudante brasileiro que sai do país em busca de educação executiva de ponta. De acordo com uma pesquisa realizada pela consultoria GNext com 99 alunos de 18 escolas de negócios de primeira linha nos Estados Unidos e na Europa, eles optam pelos MBAs cada vez mais novos: 61% ainda não chegaram aos 30 anos (ver quadro).

"A juniorização dos cargos de gestão no Brasil está levando esses profissionais a buscar educação continuada ainda cedo. Muitas universidades, no entanto, veem esse processo como positivo", afirma Denise Barreto, sócia-diretora da GNext. Ela explica que, no passado, os programas de formação executiva acabavam excluindo os executivos mais jovens em razão do alto custo pessoal e financeiro.

Hoje, o cenário é outro. "Os brasileiros estão deixando de lado a ideia de que o MBA no exterior é algo inalcançável. O número de profissionais que investem na própria educação é cada vez maior", afirma João Villas, diretor geral do IE Business School, instituição sediada na Espanha. Parte desse processo foi beneficiado pelo câmbio favorável. Segundo Villas, o custo médio em reais de um curso de primeira linha fora do país caiu pela metade nos últimos cinco anos. "Mesmo assim, poucos brasileiros fazem esses programas, especialmente se levarmos em conta a necessidade das empresas em ter gestores qualificados", diz.

Conciliar família e estudo também parece estar se tornando mais fácil para os jovens profissionais. Prova disso é que cresceu significativamente a parcela de estudantes que leva os parceiros para o período de estudos - 55% este ano ante 42% no ano passado. É o caso de Ferreira que, recém-casado, levou a mulher para Wharton. "Ela aproveitou os dois anos para dividir a agenda entre estudo, trabalho e lazer", conta.

Providenciar o bem-estar dos cônjuges, desse modo, acabou sendo um diferencial para muitas escolas de negócios. Na americana Duke University, um dos pontos fortes é o programa de integração da família. "Os parceiros são engajados em atividades sociais, recebem orientações e acabam se tornando parte da comunidade", afirma Megan Lynam, diretora de admissões da Fuqua Business School, escola de negócios da Duke University.

O custo pessoal de investir em um MBA também explica a presença massiva de homens nos programas de educação executiva. Elas, porém, têm conquistado espaço com o passar dos anos, principalmente nas escolas europeias, onde a duração média do curso é de um ano. "As mulheres vêm buscando saídas para se realizarem profissionalmente. Com temporadas mais curtas de estudo, elas precisam fazer menos sacrifícios", explica Denise, da GNext.

O equilíbrio entre vida pessoal e profissional, segundo ela, tem um peso importante entre os profissionais que responderam a pesquisa: 77% deles querem conciliar esses dois aspectos. Além disso, desejam atuar em empresas envolvidas com práticas empreendedoras e comprometidas com políticas sustentáveis. "O estudante quer estar em uma companhia alinhada com os valores em que acredita", diz Denise.

Isso explica o fato de que, embora atuem majoritariamente em consultorias e no setor financeiro, esses jovens admiram empresas inovadoras como a Apple e o Google. "Muitos voltam a atuar em segmentos onde a remuneração é alta, mas apenas até recuperarem o alto investimento no MBA. O objetivo de longo prazo é trabalhar em setores como o de tecnologia, que privilegiam a atitude empreendedora", afirma.

Foi pensando em uma transição de carreira que o gerente de novos negócios Paulo Cabral decidiu fazer um MBA no IE, aos 26 anos. Após atuar em uma companhia de serviços financeiros, percebeu que queria migrar para um setor diferente. "Estava em dúvida entre tecnologia e bens de consumo", conta.

Ao retornar da temporada de um ano, que também contou com um estágio de quatro meses na Alemanha, Cabral conseguiu atingir seu objetivo: após receber e analisar algumas propostas, decidiu-se pelo Google e, desde maio de 2011, trabalha no escritório paulistano da companhia. A multinacional de tecnologia ocupava o topo da lista das empresas onde o gerente mais desejava trabalhar. "Hoje, estou no emprego e no país que queria", comemora.

Se há alguns anos voltar ao Brasil não era a prioridade de quem cursava MBA no exterior, esse cenário hoje é bem diferente. Na Fuqua Business School, 75% dos alunos vieram trabalhar no país no final do programa em 2010. Seis anos antes, nenhum dos graduados retornou. O mesmo vale para os estágios de verão, conhecidos como 'summer job'. Boa parte deles está sendo feito em empresas brasileiras, segundo a diretora Megan Lynam. "Isso reflete as oportunidades e o crescimento do Brasil", diz.

"Muitos brasileiros ainda desejam uma experiência internacional, mas planejam voltar após algum tempo, pois sabem que o país vive um momento especial. Além disso, eles passam a ser assediados pelo mercado e têm propostas salariais muito competitivas", afirma João Villas, do IE. As perspectivas de remuneração desses alunos, segundo a pesquisa, são mesmo otimistas: a maioria deles quer ganhar acima de US$ 140 mil por ano quando retornar ao mercado de trabalho.

As somas são altas, mas essa expectativa não é infundada. Quando voltou ao Brasil, Frederico Ferreira foi trabalhar no grupo GP Investimentos, onde já atuava antes do curso. O retorno veio acompanhado de um aumento de 100% sobre o pacote de remuneração que recebia antes, além de novas responsabilidades. Alguns meses depois, graças a uma indicação de um ex-colega de Wharton, ele aceitou uma proposta do fundo de private equity Carlyle para ser associado sênior. "A oportunidade era muito boa. Consegui a vaga principalmente por ter o MBA", ressalta.

Fonte: Vivian Soares, Valor Econômico, 29/03/2012