A crise na economia do país tem afetado diretamente o setor da saúde. Tanto no quesito de investimentos, como também na prestação de serviços. No entanto, muito tem se questionado qual o futuro do setor da saúde? Quais são as apostas para esta vertente? Esses e outros questionamentos foram apontados em entrevista com o presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde (ABIMED), Carlos Goulart. Confira abaixo a entrevista na íntegra.
Hospitalar: Sr. Goulart, quais as tendências do setor da saúde para 2020?
Carlos Goulart: Com a aprovação das reformas, o País deve começar a trilhar um caminho positivo e importante, que dará novo alento para o setor de saúde e a economia como um todo. A retomada gradual do emprego ampliará o número de beneficiários de planos de saúde, impulsionando um aumento de demanda da saúde privada.
O movimento de fusões e aquisições deve continuar no próximo ano, consolidando uma tendência em direção à verticalização do atendimento – a compra de hospitais, laboratórios e outros serviços por planos de saúde ou ainda a criação de planos de saúde por hospitais. Ao investir em redes próprias, a saúde suplementar busca reduzir custos e atuar em novos mercados regionais para obter maior capilaridade.
Outra tendência que deve ganhar força na saúde é a mudança do sistema de remuneração, passando do atual pagamento por produtividade para o pagamento por desfecho clínico, com novos modelos de contrato. São novos caminhos que o sistema como um todo está buscando para melhorar a gestão da cadeia e reduzir desperdícios.
H: Quais as apostas para o setor no próximo ano?
CG: Com a expectativa de recuperação da economia, o setor de produtos para saúde – que tradicionalmente cresce acima do PIB (Produto Interno Bruto) – deve registrar um crescimento mais robusto. Devem contribuir para isso o envelhecimento da população, o aumento da incidência de doenças crônicas, o aquecimento do acesso à saúde suplementar em decorrência do aumento do número de empregos e também a existência de uma demanda por assistência ainda não atendida.
Outro fator que deve impactar positivamente o setor são as políticas públicas de saúde voltadas para a atenção primária – conforme anunciado pelo Ministério da Saúde. Elas devem gerar novas demandas e levar a indústria de dispositivos médicos a se mover nesta mesma direção para atendê-las e manter a lucratividade.
H: O que se pode esperar do mercado em relação aos avanços tecnológicos?
CG: Os avanços estão ocorrendo em velocidade cada vez maior e tecnologias como Inteligência Artificial e Internet das Coisas já estão abrindo espaço para outros modelos de negócios e novas frentes de atuação da indústria de produtos para saúde. Além dos produtos e serviços tradicionalmente oferecidos, essas empresas começam a atuar como fornecedoras também de softwares e inteligência, tendência que deve se acentuar nos próximos anos.
A proliferação de startups deve aumentar, trazendo muitas inovações que já começam a transformar o modelo assistencial. Entre elas, podemos destacar uma tendência gradual à desospitalização, com crescimento concomitante do atendimento domiciliar. A própria maneira de se praticar a medicina não será mais a mesma em decorrência das novas tecnologias, tampouco o ensino médico nas universidades e os papéis de médicos e pacientes nesse novo cenário.