Após três anos e meio trabalhando com diferentes controladores que, por sua vez, adotaram estratégias distintas, Marcelo Noll Barboza anunciou ontem pedido de demissão do cargo de presidente executivo da Dasa, maior empresa de medicina diagnóstica do país. "Foi um período de grandes mudanças e desde o fim do ano passado vinha mostrando meu interesse em sair", disse Barboza.
"Não estava esperando a sua saída, mas também não fiquei surpreso. Ele estava desde a época do Caio Auriemo e Pátria e se submeteu a várias estratégias, dos fundos ativistas e agora da MD1", disse Iago Wathley, analista da corretora Fator. "Acho que houve uma pressão do Edson Bueno", disse uma fonte do setor de saúde que prefere não se identificar.
A desconfiança do especialista em saúde ocorre porque a presidência será ocupada interinamente, por seis meses, pelo presidente do conselho, o médico Romeu Côrtes Domingues. Ele é um dos fundadores do laboratório carioca CDPI, que integra à rede MD1, do empresário Edson Bueno, e que se associou à Dasa em agosto de 2010. Domingues foi eleito presidente do conselho da Dasa por indicação de Bueno e com a aprovação dos fundos de investimentos acionistas. "Todo o conselho foi eleito por meio de uma chapa e não haverá mudanças no conselho. Na próxima assembleia, vamos votar a participação de mais um conselheiro, indicado pela Petros", afirmou Domingues.
Questionado se existe a possibilidade de ele próprio se tornar presidente executivo da Dasa em definitivo, Domingues respondeu: "a legislação permite que eu me torne presidente porque eu não era funcionário e sim sócio do Edson Bueno. Mas esse não é o objetivo. Estamos procurando um CEO", ressaltou Domingues, que acumulará a presidência do conselho. "Vamos escolher com calma o novo presidente. Se tiver experiência em saúde é melhor, mas sabemos que não é fácil porque é um setor novo por isso colocamos esse prazo de 180 dias", acrescentou.
Bueno é hoje o maior acionista da Dasa, com 12%, sua ex-esposa, Dulce, tem 11,5%, Romeo e seus dois irmãos detém 2,5%. Já os fundos possuem as seguintes participações: Petros (10%), CSHG (7%) e Blackrock (5,1%).
O pedido de demissão de Barboza chamou atenção porque, em fevereiro, os executivos José Maurício Puliti, diretor financeiro e de relações com investidores, e Rodrigo Musiello, diretor comercial, também renunciaram. Segundo a Dasa, Puliti pediu demissão após sete meses de casa porque teve dificuldades de adaptação no setor de saúde e Musiello recebeu proposta de outra empresa.
Barboza assumiu a presidência em outubro de 2008, quando o médico Caio Auriemo, fundador do laboratório, e o fundo Pátria estavam no comando da companhia. Porém, sete meses depois fundos de investimento ativistas como Hedging Griffo, Skopos e HSBC, que possuíam participação na companhia, tiraram Auriemo e o Pátria do controle e assumiram a gestão. O que motivou a saída de Auriemo é que os familiares dele prestavam serviço para a Dasa, o que incomodava o mercado.
No último trimestre, a companhia registrou lucro líquido de R$ 18,5 milhões revertendo prejuízo de R$ 29,8 milhões apurado no mesmo período de 2010. Esse resultado negativo em 2010 foi reflexo da recompra de títulos de uma dívida de US$ 250 milhões contraída no mercado internacional em 2008.
Os custos para essa recompra de bônus e integração com a MD1 geraram despesas financeiras no valor de R$ 164 milhões que impactaram o lucro líquido anual que foi de R$ 145 milhões, uma queda de 4% sobre o resultado de 2010. No resultado do ano, já está sendo considerada a fusão com a MD1.
No quarto trimestre, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) foi de R$ 104,7 milhões, redução de 6% sofre o mesmo trimestre de 2010. A margem Ebitda manteve-se na casa dos 25%. A receita líquida avançou 9,4% e atingiu R$ 528 milhões. No ano, cresceu 11,7%, para R$ 2,2 bilhões.