O modelo de negócios da área da saúde precisa ser reinventado no Brasil para se tornar sustentável e proporcionar maior acesso da população. Nesse caminho, é fundamental a integração de toda a cadeia, no âmbito público e privado, na busca de soluções inovadoras. É o que defende Ana Maria Malik, coordenadora geral do GV Saúde (Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da Fundação Getúlio Vargas).
“Há um movimento de elevação dos custos, causado pelo envelhecimento da população, pela entrada de tecnologias e também pelo desperdício. Este problema, que não é exclusivo do Brasil, ocorre no mundo inteiro. Para reverter esse quadro, garantindo maior acessibilidade pela população, é fundamental desenvolver um novo modelo de negócios baseado na cadeia da saúde. Enquanto cada segmento de atuação defender seus interesses de maneira isolada, a situação não mudará”, explicou a professora, que participou na quinta-feira (24/02) do Café Setorial de Saúde promovido pela Amcham-São Paulo.
O setor de saúde hoje representa 7% do Produto Interno do Bruto (PIB) brasileiro, com uma movimentação de R$ 300 bilhões por ano. Os Estados Unidos, por sua vez, gastam US$ 2 trilhões ao ano. Em ambos os países, segundo a professora, os custos sobem continuamente e há uma discussão sobre qual será o limite, sobre com quanto poderão, de fato, arcar no futuro se o ritmo de aumentos persistir.
Desperdícios
Conforme Ana Malik, um modelo integrado de negócios permitiria mais racionalidade nas operações, eliminando desperdícios. “Sempre há 'gordura' para cortar”, enfatizou.
A pesquisadora apresentou um levantamento da Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgado em 2010, que revela que entre 20% e 40% dos recursos em saúde são desperdiçados pelos países por ineficiências em gestão e excesso de burocracia.
Para a professora, o setor público e as empresas do segmento precisam aperfeiçoar o planejamento estratégico, porque os equívocos que são cometidos representam atualmente aportes maiores de recursos.
Mudanças em pauta No evento da Amcham, o presidente da Bradesco Saúde, Márcio Serôa de Araújo Coriolano, afirmou que, na área de seguros de saúde, os custos crescem a uma taxa de 10% ao ano, contra índices médios anuais de inflação de 4,5%. “É importante abrir o debate sobre os limites da inovação tecnológica e a capacidade de pagamentos”, alertou. O momento pode ser favorável a uma intensificação do diálogo entre os agentes do setor, na visão do secretário adjunto da secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, José Manoel de Camargo Teixeira. “O novo governo federal representa continuidade partidária, mas demonstra uma postura diferente da gestão anterior. Há uma disposição maior para discutir mudanças.” Segundo o secretário, o Ministério da Saúde promoveu, nesta semana , em Brasília, a primeira reunião do colegiado formado pelas secretarias estaduais de saúde dos 27 Estados mais Distrito Federal. “O ministério sinaliza que quer fazer adequações na Política de Saúde do País. Os agentes do setor devem estar preparados para contribuir com propostas diversas, inclusive relativas ao financiamento. O financiamento da saúde é público e privado, não pode haver discriminação. É preciso gerenciar melhor esse pool de recursos e otimizar serviços”, disse Teixeira. Para o presidente da Novartis Brasil, Alexander Triebnigg, o momento de transição de governo é favorável reformas para melhorar o desempenho da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Vejo grande oportunidade de promover mudanças nas gerências da Anvisa”, enfatizou. Ele destacou também que o País não pode adiar o debate sobre o fortalecimento do conhecimento e da inovação para gerar produtos e serviços de maior valor agregado e empregos. “O Brasil é o país da América Latina que apresenta mais lentidão e maiores cursos para aprovação de protocolos para estudos clínicos. Além disso, o número de patentes brasileiras ainda é baixo.” Regulamentação Apesar de detectar entraves regulatórios no País, a Novartis demonstra otimismo em relação ao potencial da economia brasileira. A companhia já tem dez plantas e está investindo na primeira fábrica de vacinas no País, em Pernambuco. O excesso de regulamentações é um dos fatores que impõem incremento de custos às operações, na visão de Claudio Roberto Ely, presidente da Drogasil, rede de 340 lojas. "No meu entender, as regulamentações nessa área vão aumentar”, avaliou ele. A larga utilização de novas tecnologias também onera o setor privado, mas é fundamental para na oferta de produtos com qualidade. “Por exemplo, a Drogasil conta com caminhões-baú refrigerados para não comprometer o princípio ativo de medicamentos.” Por outro lado, Ely apontou que a redistribuição de renda no País e a entrada dos medicamentos genéricos no mercado são aspectos positivos, que estão promovendo a acessibilidade à saúde. Capital estrangeiro Outra questão que foi abordada no Café da Amcham e está em pauta no País, é a participação de capital estrangeiro no setor de Saúde, o que, pela legislação brasileira, é proibido para a área hospitalar. “Esse assunto está sendo discutido, há leis tramitando no Congresso e está aumentando a pressão para que haja abertura aos investimentos estrangeiros”, disse Jorge Moll, presidente da Rede D'Or, empresa adquiriu recentemente o grupo São Luiz e conta com 24 hospitais no País. Ele avalia que os recursos estrangeiros seriam fundamentais para potencializar a inovação nessa área. O grupo D’Or conta com um instituto de pesquisa, constituído há quatro anos, onde hoje atuam 60 pesquisadores. Gestão O presidente da Unimed, Mahamad Akl, disse na Amcham que o movimento de fusões e aquisições tende a prosseguir no setor, que busca ganho de musculatura financeira e novas parcerias na condução da gestão das operações. “Estou otimista que o setor continuará a crescer e haverá uma concentração cada vez maior.” Sobre o desenvolvimento de uma gestão mais eficiente, o vice-presidente de ensino e pesquisa do Hospital Israelita Albert Einsten, Claudio Schvartsman, destacou que o grande desafio da área está no desenvolvimento de indicadores de performance. O hospital conta com comitês para discutir diretrizes e protocolos de atendimento. “A gestão é crítica. Todos os componentes da cadeia ainda têm muito o que investir, tanto na esfera pública quanto na privada. É preciso repensar os modelos de interação, isto é, os custos dos procedimentos versus a manutenção do indivíduo. O desperdício ocorre pelo desarranjo dos agentes”, acrescentou Mauro Figueiredo, presidente dos laboratórios Fleury, também presente ao debate da Amcham. De acordo com Jorge Moll, da Rede D'Or, é fundamental analisar a questão custo-eficácia na gestão para oferecer atendimento de qualidade e maior equilíbrio financeiro. Fonte: retirado de AMCHAM (Daniela Rocha) http://migre.me/3XYzg