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Pagamento por Performance funciona na Unimed?

A implantação de um programa de Pagamento por Performance dentro de uma Cooperativa Médica é um desafio, com certeza maior do que em outra tipo de operadora de planos de saúde, visto a lógica cooperativista que acaba gerando um viés de “tratar iguais os diferentes”.

Quando o gestor de uma Unimed percebe a importância de tratar diferente os diferentes, e resolve colocar a gestão baseada em evidências acima de outras questões, um programa de Pagamento por Performance (P4P) bem estruturado, centrado no paciente e não punitivo pode ser implementado com sucesso.

Uma Unimed ousou implantá-lo e já está colhendo frutos. Boa parte dos resultados já foram apresentados pelo seu presidente no Simpósio sobre P4P no ano passado. Em breve uma artigo deverá ser publicado. Ficou claro duas recomendações: uma adequada estratégia de divulgação para aprovação da Assembleia e um diálogo com o CRM.

Na estratégia de divulgação, quatro princípios foram adotados: a valorização e não punição do cooperado, a divulgação dos objetivos, a transparência nas regras e na demonstração dos resultados para gerar confiabilidade (indicadores ajustados por especialidade, proporcionalidade à produção médica e um relatório individual comparativo), e finalmente que o valor adicional fosse substancial.

Esta Unimed conseguiu ultrapassar esta barreira num Estado em que, tradicionalmente, o CRM é bastante rígido. A lógica foi simples: a Assembleia da Cooperativa deu o aval e o CRM foi informado que o programa não era punitivo e nem interferiria na conduta do médico. A avaliação utilizaria o modelo GPS.2iM© o qual tem toda a sua lógica na utilização de indicadores focados na qualidade da assistência. Este modelo está detalhado no meu livro: Pagamento por Performance: o desafio de avaliar o desempenho em saúde no Brasil (Editora DOC Content, 2015). Hoje este modelo de avaliação está em implantação em três das cinco maiores Unimeds singulares do país.

Esta Cooperativa, com mais de 73 mil vidas teve, no período de avaliação, a participação de todos os seus 442 médicos e o ganho adicional destes cooperados, após um ano de programa, chegou a próximo de 10% do valor que já vinham recebendo. A meta é que este valor chegue a 25% nos anos subsequentes.

Os resultados preliminares foram impressionantes. Houve impacto na sinistralidade, com uma linha de tendência em franca redução quando comparada com o ano anterior que vinha subindo; o custo médio gerado por consulta reduziu; os indicadores de utilização se aproximaram dos benchmarks durante o programa; e para completar, o Índice de Performance (indicador composto que mede os diversos indicadores agrupados em termos de estrutura, eficiência, efetividade e experiência do paciente) aumentou significativamente durante o ano de avaliação do programa. Isso demostrou claramente que foi possível aumentar o ganho dos médicos, reduzir a sinistralidade e melhorar a qualidade da assistência.

Não tem como não utilizar a frase de Peter Drucker, onde ele fala que: “Velhos problemas exigem compromisso, competência e inovação para a solução”. Foi exatamente isso que esta Unimed utilizou. Parabéns aos seus gestores e à equipe que está conduzindo o programa e, principalmente, aos médicos que aprovaram na Assembleia um projeto fundamental para a sustentabilidade da sua Cooperativa. Reitero o que deixei claro no meu livro: não há como melhorar a qualidade da assistência e controlar o aumento dos custos, sem alterar fundamentalmente como os prestadores de serviços médicos são remunerados.