No dia 16 de julho, o Estadão organizou, junto com o INSPER, um dos encontros da série “Fóruns Estadão Brasil 2018”, onde o futuro de alguns temas estratégicos para o país são debatidos. No caso, o encontro versou sobre o tema saúde. A programação durou toda a manhã, tendo ao todo três pautas: o sistema público de saúde, o sistema privado e o cenário demográfico. Acompanhei o debate sobre a terceira pauta, chamado “Desafios demográficos e o novo contexto da saúde no Brasil” (no vídeo abaixo, há a íntegra da discussão).
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Com a presença dos pesquisadores Cássio Turra, do CEDEPLAR/UFMG, e Joyce Schramm, da FIOCRUZ, mediados por Kenya Noronha, também do CEDEPLAR/UFMG, a questão do envelhecimento populacional foi discutida à luz dos vários aspectos que a dizem respeito.
Falando do Brasil, Turra explicou que estamos no meio da transição demográfica. Sobre isso, ressaltou pontos como o fato de que toda a estrutura etária do país está envelhecendo, embora ainda haja bastante jovens; lembrou do caráter inercial do processo de envelhecimento, ou seja, sua irreversibilidade; e destacou que as consequências disso se verificam tanto em nível familiar, com a recomposição do perfil geracional dos membros, como do ponto de vista individual (comportamental).
Uma questão fundamental que foi destacada é que a transição demográfica ocorre junto com outras transições, como a epidemiológica, educacional e de mercado de trabalho. Isso é importante pois o recorrente temor de que haja uma explosão de gastos em saúde pelo envelhecimento da população, justificado quando são analisados os dados etários isoladamente, é minorado quando são consideradas essas outras variáveis.
Em termos de desafios impostos pela questão demográfica, Turra citou a carência de dados longitudinais na área de saúde, isto é, oriundos de pesquisas que acompanham os indivíduos por um longo período de tempo. Mencionou ainda a importância da educação financeira para as atuais gerações jovens, que devem se preparar tanto para longevidade de seus pais como para a própria.
Já Schramm apresentou dados dos estudos de carga de doença realizados no Brasil em 1998 e 2008. Com isso, mostrou que, com a mudança no perfil epidemiológico no país, tem aumentado o número de anos de vida perdidos por incapacidade. Isso quer dizer que, se por um lado estamos vivendo mais tempo, por outro, esse aumento não necessariamente tem ocorrido com qualidade de vida, como mostra a matéria do Estadão, “Brasileiros estão vivendo mais e pior”.
Como consequência dessa mudança no cenário epidemiológico, é fundamental que se passe a dar mais atenção à morbidade que à mortalidade das doenças (muito embora, como lembrou Schramm, algumas regiões do país vivam a dupla carga de doenças, com alta prevalência de doenças infecto-contagiosas coexistindo com equivalente prevalência de doenças crônico-degenerativas). Como desafio da Epidemiologia em sua contribuição para o avanço da preparação do país frente ao cenário demográfico em alteração, a pesquisadora da FIOCRUZ afirmou que os estudos sobre a morbidade das doenças precisam ser mais qualificados nas métricas usadas, a fim de produzir resultados mais confiáveis.