Durante algum tempo no Brasil, o Fundo Imobiliário do Hospital Nossa Senhora de Lourdes pareceu uma boa solução para o financiamento do setor hospitalar, num país em que investidores estrangeiros não podem ser acionistas de operações hospitalares. Por muitos anos, o Fundo Imobiliário do Hospital da Criança apresentou uma das maiores rentabilidades do setor, o que abriu as portas para que o Hospital Nossa Senhora de Lourdes lançasse seu próprio fundo imobiliário, que contou inclusive com um lote adicional para financiar a expansão do Hospital.
Contudo, já há algum tempo que o mercado comenta que o hospital apresenta dificuldades em suas operações, não apresentando o movimento esperado nas novas alas. Para piorar a situação o aluguel por opção do próprio Hospital é fixo e não variável conforme o resultado do Hospital, o que começou a comprometer brutalmente as outras obrigações do hospital e PIOR a POSSÍVEL VENDA do Grupo para outros interessados como a Rede D'Or, que certamente deve ter visto no valor pago ao Fundo Imobiliário um impeditivo para a transação .
Se o Fundo Imobiliário foi utilizado como uma estratégia para remunerar parte dos acionistas familiares, esta estratégia poderá ter saído muito mais cara do que o inicialmente planejado.
Enfim, uma notícia triste, para um Hospital que durante muito tempo serviu como modelo de crescimento na Grande São Paulo.
Atenciosamente,
Fernando Cembranelli
Equipe EmpreenderSaúde
Hospitais obtêm liminar para reduzir aluguel pago a fundos
Dois hospitais do Grupo Nossa Senhora de Lourdes obtiveram na Justiça liminar provisória a fim de reduzir o aluguel pago a dois fundos imobiliários administrados pela Brazilian Mortgages. Com isso, os cotistas dessas carteiras podem sentir o impacto da ação na rentabilidade dos portfólios.
No primeiro caso, o Hospital da Criança, locatário do único imóvel do fundo imobiliário de mesmo nome gerido pela Brazilian Mortgages, ingressou com ação judicial para reduzir o valor do aluguel do imóvel.
O hospital obteve uma decisão liminar e provisória favorável, na qual fixa um aluguel provisório no valor de R$ 442,067 mil mensais ou o valor de 8% do faturamento mensal do Hospital da Criança. Nesse caso, cerca de 300 investidores serão afetados. Segundo o fato relevante encaminhado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) pela Brazilian Mortgages, "a administradora adotará as medidas cabíveis para a proteção dos interesses do fundo". O comunicado diz ainda que o Hospital da Criança, até o momento, não realizou o pagamento da parcela do aluguel referente ao mês de dezembro de 2011, vencida em 10 de janeiro deste ano.
No segundo fato relevante dirigido ao mercado, a Brazilian Mortgages informou que o Hospital e Maternidade Nossa Senhora de Lourdes ingressou com ação revisional de aluguel do imóvel do fundo imobiliário Hospital Nossa Senhora de Lourdes. O hospital obteve liminar favorável, no qual há a fixação um aluguel provisório no valor de R$ 1,618 milhão mensais. O total correspondente a 80% do valor do aluguel vigente.
O comunicado também afirma que a administradora adotará medidas para a proteção dos interesses dos cotistas do fundo. Lançado em março de 2006, o fundo é dono do prédio do Hospital Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, localizado na Rua das Perobas, no bairro do Jabaquara, zona Sul de São Paulo. Em novembro, a Brazilian Mortgages já havia notificado que o hospital havia deixado de pagar o aluguel referente a outubro. Dias depois do comunicado, entretanto, o hospital realizou o pagamento.
Por conta das incertezas em relação ao pagamento dos alugueis, os fundos Hospital da Criança e o Nossa Senhora de Lourdes registraram perdas no ano passado. Considerando-se a rentabilidade distribuída aos investidores e a variação da cota negociada em bolsa, o Hospital da Criança fechou 2011 com queda de 10,8%, ante variação de 11,60% do CDI no período e desvalorização de 18,11% do Ibovespa. Já no caso do Nossa Senhora de Lourdes, a perda foi maior: prejuízo de 23,3%.
Procurada, a Brazilian Mortgages disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que não poderia fornecer informações além daquelas presentes nos fatos relevantes. Já o Grupo Nossa Senhora de Lourdes, também por meio de sua assessoria de imprensa, disse que "a diretoria não quer se pronunciar a este respeito neste momento".
Fonte: Valor Econômico, 17/01/12