Não são apenas os bolsos vazios e os saques bancários limitados, a crise financeira grega e a adoção de medidas de austeridade para combatê-la têm impactado não só a rotina como a saúde do povo. Na terça-feira (30), o mundo presenciou o primeiro calote de um país desenvolvido. A Grécia arrasada pela crise econômica mundial, deflagrada em 2008, não conseguiu pagar parte de sua dívida de 1,6 bilhão de euros e agora corre o risco de não conseguir mais recursos, caso não quite seus débitos.
A situação dos gregos ainda é desconhecida e depende de um plebiscito que será realizado no próximo domingo (5), que decidirá a permanência ou não do país na zona do euro. Por ora, eles sentem na pele as consequências das duras medidas de austeridade, que deixaram a sociedade não só endividada, mas também doente.
Impedida de fazer política monetária (o país não pode mexer em sua moeda e na taxa de juros, pois integra a zona do euro), o que restou à Grécia foram as medidas fiscais, que significa mexer nos impostos e cortar gastos. Rendida aos empréstimos internacionais, o país adotou medidas duras como cortes no orçamento público e, dessa forma, sobrou para a área de saúde.
Estudo divulgado pela The Lancet, em fevereiro de 2014, mostrou que as medidas limitaram os gastos de saúde a 6% do PIB grego e que ao cumprir essa meta, os gastos públicos de saúde do país ficaram abaixo que qualquer outro membro da União Europeia, antes de 2004. O alcance das metas também provocou cortes em custos operacionais de hospitais e nos gastos na área farmacêutica.
Além disso, mudanças na área econômica significam mais vulnerabilidade da população a determinados tipos de enfermidades. A parte de prevenção e tratamento para o uso de drogas ilícitas também sofreu cortes, assim como os serviços de saúde mental, que tiveram o financiamento do governo reduzido em 20% entre 2010 e 2011, e de 55% entre 2011 e 2012.
O acesso à saúde também é apontado como preocupante pelo relatório. A cobertura do seguro de saúde está diretamente ligada ao vínculo empregatício e, com o novo contingente de desempregados, o número de pessoas sem seguro tem aumentado consequentemente. Há certa cobertura para aqueles que estão sem seguro, mas os critérios de elegibilidade não estão atualizados com a nova demanda social. Segundo o Lancet, os gregos têm recorrido a clínicas formadas por voluntários, que até antes da crise eram destinadas a imigrantes.