No IV Curso introdutório da Liga de Gestão e Economia da Saúde da EPM Jr, Gonzalo Vecina Neto, médico sanitarista, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP e atual superintendente do Hospital Sírio Libânes, deu uma amostra porquê é considerado um dos grandes pensadores de saúde no Brasil. Em uma aula de 60 minutos abordou a trajetória da saúde pública no Brasil e os desafios atualmente enfrentados. Abaixo, segue um resumo dos principais pontos abordados.
Os primeiros grandes hospitais foram hospitais públicos, primeiro porque eram grande, segundo porque eram as instituições onde se encontravam as inovações, as novas tecnologias. A primeira cirurgia extra-corpórea foi realizada num hospital público. Com o tempo, os hospitais públicos foram perdendo capacidade de investimento e os hospitais privados passaram a deter a tecnologia de ponta e o melhor atendimento. O primeiro acelerador linear é privado , assim como a primeira UTI. A sociedade se tornou mais dinâmica a partir da década de 70 e com a iniciativa privada surgem novos grandes hospitais. A iniciativa pública passa a sofrer com a capacidade de absorver gestores, seja pela remuneração, seja pela dificuldade em mandar embora, sem justa causa demissão no setor público torna-se exremamente difícil.
Nos anos 90 surgem algumas alternativas para o setor público, surge a reforma Bresser, as organizações socies, as OSCIPS, as agências regulatórias que permitem que estado se retire do fazer e passe a regular. O Estado como agente regulador pode ser muito mais efetivo. A ANEEL verifica se energia é produzida e distribuída de acordo com a polítia determinada pelo executivo. O processo de produção precisa de especialistas, sendo que o Estado deveria se incumbir de executar a distribuição da justiça, a segurança pública e a arrecadação de impostos. A assistência à saúde, a educação não necessariamente são uma tarefa típica do Estado. O processo produtivo do Estado, muitas vezes sera mais ineficiente. Estamos vivendo um estado em transformação, em falta gestão tanto do lado da iniciativa privada, quanto do Estado, contudo no lado privado houveram maiores avanços de gestão do que no setor público. Atualmente, sem informatização nenhuma organização vai a lugar algum.
Contudo, o Estado tem um papel fundamental na nossa sociedade. Não existe sociedade sem Estado, homens e mulheres devem viver em sociedade. O Estado organiza a estrutura de produção. O governo tem que ser democrático, precisa de politicos, gente eleita e para fazer com que o governo aconteça tem que construir maiorias.
Na sociedade do século XXI, quem só enxerga parte será menos capacitado para encontrar a saída para um problema. Tradutor do seu olhar é a ideologia, escolham a sua e olhem o mundo se quiserem mudá-lo.
Em entrevista a revista Fornecedores Hospitalares, Gonzalo Vecina deu a seguinte declaração:
FH: O que o senhor acha da Parceria Público Privada ?
Vecina: A Parceria Público-Privada é fundamental. O estado brasileiro contrata médicos da mesma maneira que contrata um juiz, só que a justiça anda devagar e os hospitais não podem andar devagar. Usar as mesmas técnicas administrativas para gerenciar diferentes setores da atividade humana está absolutamente errado. Isso podia 6ser adequado há 30 anos, quando não tinha informática e a média de permanência no hospital era de 10 diass. Hoje, a média de permanência nos hospitais é de quatro dias. Tudo mudou, mas a gestão pública não mudou, para certas coisas ela pode continuar do mesmo jeito, mas para outras não. Por que não existem mais sistemas de transporte coletivo estaduais? Porque o Estado é incapaz de fazer esta gestão com a dinâmica necessária para o transporte público, a mesma coisa é no setor saúde. A terceirização da gestão no setor de saúde utilizando o terceiro setor, organização social, OSCIP, ou mesmo no caso das PPPs., que tem finalidade lucrative. Este processo é irreversível e necessário.
FH: Com o novo governo, quais são as principais urgências em sua opinião?
GV: Financiamento, melhoria da gestão via reforma administrativa e formação de gestores, mudar o modelo assistencial para torná-lo mais adequado para tratar de doenças crônicas urbanas, melhorar a integração entre o setor público e o privado, estimular a indústria da saúde. Estes são os cinco pontos fundamentais.
FH: Diante do cenário de envelhecimento da população o que precisa ser mudado no SUS ?
GV: Nosso sistema de saúde está voltado para um conjunto de doenças e um perfil de população anterior a década de 90, quando morríamos mais de doenças infecto-contagiosas. Agora, como diz Arnaldo Antunes, “não existe nada mais moderno do que envelhecer”e o envelhecimento tem outros tipos de doença: câncer, acidente vascular cerebral, infarto do miocárdio, diabetes. São as doenças crônicas e o sistema está preparado para atender doenças infecciosas e doenças agudas.
Fonte: Revista Fornecedores Hospitalares, Ano 19, Edição 187, Maio 2011
Vídeo Com Gonzalo Vecina sobe os desafios da saúde no Brasil:
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