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"Fora de Série", os Beatles, Malcolm Gladwell e as 10.000 horas

O que faz alguém fora de série? Qual é o ambiente que permite a criação de um Bill Gates ou de um Warren Buffet? Estas questões foram respondidas por Malcolm Gladwell, em seu livro “Fora de Série”, de 2008.

Num experimento interessante  realizado em 1990, pelo psicólogo K. Ander Ericson, um grupo de violinistas foi dividido em três grupos: as estrelas, aqueles estudantes com potencial de se tornarem violinistas de classe mundial, num segundo grupo estavam os violinistas considerados bons e no terceiro grupo estavam os estudantes que nunca seriam profissionais. A todos os violinistas foi feita uma pergunta: desde o começo de sua carreira, quantas horas você praticou?

Todos os violinistas começaram  a tocar ao redor dos cinco anos de idade. Nos primeiros anos, todos praticaram de duas a três horas por semana. Mas, quando os estudantes atingiram a idade de 8 anos, grandes diferenças começaram a aparecer. Os estudantes que seriam os melhores em sua classe praticavam seis horas por semana, aos nove anos de idade oito horas por semana, aos doze anos dezesseis horas por semana e aos vinte anos de idade estavam praticando muito acima de trinta horas por semana. De fato, aos vinte anos, a elite da performance tinha totalizado dez mil horas de prática.

No estudo não apareceram músicos “naturais”, aqueles que sem muito esforço atingiram o topo, enquanto praticando uma fração do tempo de seus colegas. O estudo sugeriu que uma vez que o músico entra numa escola top, o que distingue a performance individual é quanto ele ou ela trabalha. E mais, as pessoas no topo não trabalham apenas mais ou muito mais do que as outras. Elas trabalham muito, muito mais!

De acordo com o neurologista Daniel Levitin “Dez mil horas de prática é necessário para atingir a maestria associada a ser um expert de classe mundial. Em estudo, após estudo, de compositores, jogadores de basquete, escritores de ficção científica ou jogadores de xadrez esse número surge repetidamente.”

OS BEATLES

Os Beatles – John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Star – foram ao Estados Unidos em 1964, começando a invasão britânica da cena de música Americana.

Lennon e McCartney começaram a tocar juntos em 1957, sete anos antes de aterrisarem na América. Em 1960, quando eram uma banda lutando pela sobrevivência foram convidados a tocar em Hamburgo, na Alemanha.

“Hamburgo naqueles dias não tinha clubes de rock, mas clubes de strip tease”diz Philip Norman, que escreveu a biografia Shout! dos Beatles.

Um dos donos de boate chamado Bruno teve a idéia de trazer grupos de rock para tocar em vários clubes. Inventaram uma formula, que eram enormes shows nonstop, com várias pessoas entrando e saindo. “Muitas bandas que tocavam em Hamburgo eram de Liverpool,”diz Philip,   “Isto foi um acidente. Bruno encontrou um empreendedor de Liverpool no Soho e a conexão foi estabelecida. E eventualmente os Beatles fizeram uma conexão não apenas com Bruno, mas com os outros donos de clube também. Eles continuavam voltando porque tinham muito álcool e muito sexo.”

E o que era especial em Hamburgo? Não pagava bem, nem as platéias eram receptivas, mas era o tempo que a banda era obrigada a tocar.

De acordo com Lennon: “Nós ficamos melhores e mais confiantes. Isto aconteceu por sermos obrigados a tocar a noite toda. Era mais difícil por sermos estrangeiros. Nós tínhamos que nos esforçar mais, colocar nosso coração e alma  e nos superar. Em Liverpool, nós tínhamos apenas uma hora de show, em que usávamos nosso melhor número, noite após noite. Em Hamburgo, nós tínhamos que tocar por oito horas, então nós tínhamos que encontrar uma nova maneira de tocar.”

Os Beatles terminaram viajando para Hamburgo cinco vezes entre o começo de 1960 e o final de 1962. Na primeira viagem, eles tocaram 106 noites, cinco ou mais horas por noite. Na segunda viagem, tocaram 92 vezes. Na Terceira viagem, tocaram 48 vezes, com um total de 172 horas no palco.

“Eles não eram bons no palco quando eles foram para lá, mas eram excelentes quando voltaram.”diz Norman, “Eles não aprenderam apenas stamina. Eles tiveram que aprender uma infinidade de números – versões cover de tudo o que você pensar, não apenas rock and roll , mas um pouco de jazz também. Eles não eram disciplinados no palco antes disso. Mas quando eles voltaram, eles eram inigualáveis. Foi o que os fez.”

Fonte: Fora de Série, Malcolm Gladwell, 2008, Editora Sextante