Uma vez, conversando com uma dessas ótimas pessoas que encontramos no meio do caminho, o Renato Abe, Fundador da Symbia Business Market, me fez algumas perguntas para pensar sobre um dos temas que gosto de estudar: modelos de negócio na área de saúde.
Ele começou a conversa dizendo que os sistemas começam errando ao pensar no futuro, porque revisam seus modelos de negócio atuais, corrigindo as barreiras encontradas (e, com isso, criando outras) e, em vez disso, deveriam repensar o desenho.
Vamos explicar. O exemplo que ele usou foi de um setor que, a princípio, nada tem a ver com o setor de saúde: aviação.
Uma empresa, para reduzir o investimento em processos de P&D que duram 20 anos ou mais, acabam escolhendo modelos de compartilhamento de risco com outros níveis da cadeia produtiva. No caso de uma empresa que fabrica motor, por exemplo. Desde quem prepara peças para a construção do aparato até a operadora, este modelo é existente.
Isso faz algum sentido, a princípio e volta como lucro para a produtora, porque, afinal, no modelo de negócios dela não está somente incluso o motor em si, mas a manutenção, a substituição e todos os trâmites pós-venda.
Compartilhar o risco pode fazer sentido, então, já que a operadora também é responsável por mau uso, por exemplo.
No entanto, se, em vez de vender o motor, a empresa comercializar disponibilidade de propulsão, usando a tecnologia preditiva, por exemplo, para reduzir ao máximo o risco, o modelo anterior perde o sentido e pode se tornar um ônus ao setor. Afinal, eu não preciso diretamente daquele produto: na verdade, preciso que o avião consiga decolar e se manter no ar de forma segura, seja isso com um motor (produto específico em si) ou com qualquer outra tecnologia desenvolvida pela empresa.
Trazendo isso para o setor: eu preciso de um equipamento na sala ao lado ou da disponibilidade para realizar um exame? Eu preciso necessariamente de uma droga x ou preciso que o paciente seja curado?
O Ministro Ricardo Barros, por exemplo, comentou sobre o novo modelo adotado para hepatite: o MS vai pagar as farmacêuticas somente se o paciente for curado, ou seja, se o resultado do exame após um período determinado for negativo para a patologia. Não mais pela dose, ou seja, nesse esquema, a compra do Ministério deixa de ser o produto específico, no caso o medicamento, e passa a ser a cura do paciente.
É o modelo certo? Será feito da forma correta? A decisão foi unilateral ou pensada com todos os players? Não tenho essas respostas, mas acho que este já é um primeiro movimento para algo que veremos bastante nos próximos anos: uma adaptação de modelos e revisão do que está sendo vendido e comprado.
Enfim, fica a reflexão sobre sustentabilidade e entrega de valor para a cadeia. E espero que a conversa que tive com o Renato ecoe para pensarmos em um futuro para o sistema.