Recentemente, o cardiologista e clínico geral Renato Vieira recebeu em seu consultório uma paciente de longa data. Ela apresentava uma lesão avermelhada na região da boca e do nariz. Apesar de acreditar tratar-se de rosácea, uma doença de pele, ficou na dúvida em diagnosticá-la dessa forma. Foi então que recorreu, em tempo real e pela internet, aos colegas. "Pedi permissão da paciente, tirei duas fotos da lesão com o meu celular e, no mesmo momento, transferi os arquivos e perguntei o que eles achavam", explica Vieira. A pergunta não foi simplesmente jogada na internet. Foi feita em uma rede social voltada apenas para médicos, a Doctors Way, lançada há nove meses. "Quase que instantaneamente, os colegas dermatologistas começaram a responder confirmando que se tratava mesmo de um caso de rosácea", lembra o médico, que orientou sua paciente a não ficar exposta à luz solar e a evitar alimentos muito quentes, além de encaminhá-la a um dermatologista. Em poucos minutos, Vieira discutiu o caso que acabara de surgir em seu consultório com outros colegas de profissão. Situações semelhantes já haviam surgido e foi a partir da necessidade pessoal de compartilhar informações médicas que ele e o colega Fernando Maluf fundaram uma rede social que só aceita médicos - é preciso inserir o número de CRM para se cadastrar. Hoje, há mais de 2.500 profissionais cadastrados na Doctors Way. Na internet, os médicos criam um perfil, como acontece no Facebook. Só que em vez de compartilhar episódios da vida particular, pedem a opinião dos colegas sobre exames e diagnósticos, leem estudos sugeridos por outros integrantes da rede e notícias especializadas da área, publicam artigos médicos e ainda podem assistir a aulas e trechos de congressos. Tudo de forma gratuita. "Tenho 16 anos de formado e atendo apenas no meu consultório, em São Paulo. Às vezes, sinto dificuldade de falar com colegas sobre dúvidas que surgem no dia a dia", diz Vieira, explicando porque criou o site. "Acredito que profissionais de locais mais remotos sintam ainda mais essa necessidade", diz. Segundo ele, mais de 160 perguntas já foram feitas nos nove meses de vida do site e cada uma recebe, em média, quatro respostas. As redes sociais, popularizadas há alguns anos pela troca de informações pessoais entre amigos, estão ganhando a esfera profissional no Brasil. E não necessariamente com a função de expor o currículo ou procurar emprego, como acontece no LinkedIn. A função dos sites segmentados por área profissional, como o Doctors Way, é ampliar o networking, integrar a comunidade e ajudar no dia a dia de trabalho. Assim como os médicos, os profissionais de recursos humanos também se uniram virtualmente. Capitaneada pela seccional São Paulo da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-SP), a People surgiu no começo de abril com o intuito de ampliar e facilitar a conexão de quem atua na área. "O objetivo é gerar debates virtuais sobre gestão de pessoas, em complemento aos encontros presenciais promovidos pela associação", explica Donizetti Moretti, diretor da ABRH-SP. Segundo ele, o site já conta com 2.400 cadastros e 23 grupos de estudos. Os temas mais comuns são desenvolvimento de lideranças e engajamento de pessoas. Também são movimentados os debates sobre legislação relacionada a recursos humanos. Psicóloga e sócia da ASDP Consultores, especializada em seleção e coaching, Yara Leal de Carvalho é uma das participantes da People. Ela é facilitadora do fórum que discute assuntos ligados à geração Y e conta que a rede social ampliou a conexão entre os participantes do grupo, que já se encontravam presencialmente uma vez por mês. "Usamos a rede para trocar textos e vídeos sobre temas de nosso interesse", afirma Yara, que também participa do grupo de discussão sobre coaching. "A internet amplia a possibilidade de estudos e aprofunda o networking", ressalta. Os executivos expatriados também têm na internet um ponto de encontro. Na rede social global InterNations, 480 mil pessoas que estão vivendo fora de seus países de origem trocam informações, quase sempre em inglês, sobre os mais variados assuntos - desde como gerenciar uma pequena empresa no país estrangeiro e administrar a papelada relacionada aos vistos até dicas de onde saltar de paraquedas. Com a crescente comunidade de expatriados no Brasil, a rede inaugurou, neste ano, duas regionais brasileiras: Campinas e Goiânia. Os novos grupos se juntam a outros três do país já existentes na rede social desde 2009 - São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília - e às mais de 300 comunidades ativas do site, uma para cada cidade. "O número de membros da InterNations residentes em Campinas e Goiânia tem aumentado constantemente. Os canais vão atender melhor às necessidades desses expatriados e ajudá-los a se comunicar e a organizar encontros", afirma Valentina Griffin, gerente de relações internacionais da rede social para a América Latina. No Brasil, o site tem cerca de 10 mil usuários cadastrados. Na comunidade de São Paulo, por exemplo, a maior da América do Sul, os usuários da rede social marcam happy hours, indicam restaurantes, pedem sugestões de escola para os filhos e até ideias do que fazer em um domingo pela manhã. O site também funciona para troca de informações sobre carreira e negócios. Para organizar melhor o conteúdo da página, os fóruns são divididos em cinco áreas: conversas sobre a cidade, dúvidas relacionadas à expatriação, empregos, moradia e dicas de lojas. Lançada em 2007, a InterNations surgiu a partir da ideia de três amigos: Christian Leifeld, Philipp von Plato e Malte Zeeck. Os três estudaram e trabalharam em diversos países estrangeiros e descobriram, nessas temporadas longe de casa, como é difícil se ambientar em uma nova cidade. Hoje, quem comanda os negócios é o alemão Zeeck, de 35 anos. O executivo fez o colegial nos Estados Unidos e passou, durante a graduação, por Suíça, Itália e Brasil. Já no mercado de trabalho, atuou na Espanha e na Índia entre outros locais. Na InterNations, o acesso é gratuito para alguns serviços, como a participação nos fóruns de discussão e a busca por outros membros. Usuários pagantes, identificados como "albatross members", têm outros benefícios como entrada gratuita nos encontros presenciais promovidos pela rede, prioridade nas listas dos eventos, permissão para ver quais membros visitaram o seu perfil e número ilimitado de mensagens para outros usuários. O custo de se tornar um "albatross member" vai de 3,95 libras mensais no pacote de 12 meses, até 5,95 libras por mês no combo trimestral.
Fonte: Adriana Fonseca, Valor Econômico, 09/07/2012