Durante a feira Hospitalar 2014 tivemos a oportunidade de conhecer o topo da cadeia de saúde dentro da Deloitte. Entrevistamos Reynold W. (Pete) Mooney, Mitchell (Mitch) Morris, Doug Beaudoin e Enrico De Vettori, responsável pela “prática” (área de negócio dentro da empresa, como chamam as consultorias) de saúde na Deloitte no Brasil. Pete Mooney é o Managing Director for Global Life Sciences and Health Care Industry Practice da Deloitte Touche Tohmatsu Limitada. Doug Beaudoin é National Managing Director of Healthcare Providers, e Mitchell Morris é o National Sector Leader de Healthcare Providers da Deloitte.
Essas lideranças estiveram no Brasil para o lançamento de dois novos produtos da Deloitte, o Converge Health e o Hospital-in-a-box. Tivemos a oportunidade de conversar com Pete e Enrico em um dos momentos e com Doug e Mitch em outro momento. Pete é responsável por toda a área de saúde na Deloitte, que representa um faturamento de US$ 2.5 bilhões de dólares (70-80% feitos dentro dos EUA, o Brasil ainda representa menos de 5% do faturamento total de saúde da Deloitte, mas com alta taxa de crescimento), Doug é responsável pela área de relacionamento com providers, que representa um faturamento de US$ 800 milhões de dólares, e Mitch é responsável pela área denominada “Life Sciences”, responsável pelo US$ 1.7 bilhão restante de faturamento da Deloitte em saúde no mundo.
Questionei Pete sobre o porquê do interesse no Brasil e ele me disse que o país é um dos locais mais inovadores que ele já conheceu e com muito espaço para crescimento na área da saúde. “Quando trazemos americanos para conhecer o Brasil, ele vem com muitos preconceitos sobre a qualidade do atendimento aqui. Então uma das primeiras coisas que fazemos é levarmos em grandes hospitais como o Hospital Sírio-Libanês ou o Hospital Albert Einstein. Em poucos minutos, eles percebem que voltaram ao primeiro mundo”.
Pete disse que o Brasil tem se tornado muito interessante nos últimos 5 anos, sendo um mercado muito dinâmico, com uma evolução rápida do sistema de saúde (acelerada pela compra da Amil pela UnitedHealth), também alavancada pelo crescimento da classe média.
Falando sobre inovação, perguntei a Pete quais as inovações recentes em saúde que lhe chamaram a atenção. Pete comentou sobre a conferência organizada nos EUA pela Health Evolution Partners, que anualmente traz as principais inovações do setor, e falou que algo que lhe chamou a atenção recentemente é o trabalho que a Deloitte tem realizado com o Massachusetts General Hospital, ligado à Harvard Medical School, com impressoras 3D para a área de saúde, que recentemente “imprimiu” um esófago para pacientes com atresia de esôfago, que mede o tamanho necessário do esófago em sítio cirúrgico e imprime na hora o órgão no tamanho necessário.
De forma resumida, explicamos os 2 novos produtos da Deloitte:
Hospital-in-a-box:
Para facilitar a venda, e dar ao cliente uma solução completa, pois difícilmente uma empresa mal organizada é mal organizada apenas em um ou dois quesitos, a Deloitte reuniu todos os seus principais serviços em um conjunto que envolve:
- Consultoria Operacional;
- Consultoria Jurídica (não permitida nos EUA, mas permitida em outros países – a Deloitte é uma das maiores law firms - assessorias jurídicas, fora dos EUA);
- Avaliação de Risco;
- Consultoria Financeira;
- Gestão de Transações
A Deloitte tem mais de 300 médicos e profissionais de saúde na sua prática global, o que lhe confere uma expertise significativa na gestão hospitalar. Enrico De Vettori inovou na Feira, transformando serviço (consultoria) em produto, vendendo literalmente uma caixa com os documentos necessários para um diagnóstico de 9 dias na organização, que as pessoas podiam comprar e sair carregando pela feira. A caixa-consultoria podia ser comprada por valores que variavam de R$ 50 a 200 mil reais.
Converge Health
Na prática, uma solução de inteligência em saúde, com foco em big data para gerar insights para a tomada de decisão do negócio, tanto na perspectiva da gestão como da perspectiva clínica. Diferente dos productos tradicionais de Consultoria, a Converge Health é um software, e de acordo com Mitch e Doug, “A Deloitte não é mais apenas uma empresa de consultoria, mas uma empresa de software. E o papel do consultor mudou para um papel mais de suporte à correta implementação do software, análise dos resultados e acões após diagnóstico.”
O software Converge Health tem 3 módulos principais, com focos diferentes:
- Faturamento (revenues);
- Inteligência de Saúde Populacional (Population Health Management);
- Custo Efetividade;
Talvez o mais interessante da solução seja o módulo de Inteligência de Saúde Populacional, que utiliza dados obtido do InterMountain Healthcare, um hospital sem fins lucrativos fundado em 1970 e que hoje emprega 32.000 mil funcionários (o hospital tem 45% dos leitos hospitalares do Estado de Utah, e é um case premiado varias vezes nos EUA), para gerar insights clínicos para os médicos e para os gestores do hospital. ADeloitte paga a InterMountain Healthcare pelo dados sem identificação dos pacientes, dados de pagamentos dos convênios, fornecedores etc.
Na conversa com Pete, ele disse ainda que realiza um trabalho pró-bono na África do Sul no Nelson Mandela Children’s Hospital e com doenças crônicas nos vilarejos de Joanesburgo, onde a taxa de hipertensão é crítica, “já encontramos pacientes com pressão 300 x 190mmHg andando na rua” disse Pete Mooney. Doug e Mitch também comentaram sobre um outro trabalho pró-bono que realizam nos EUA em uma clínica de saúde feminina.
Questionei a equipe sobre quem são hoje os principais clientes da Deloitte, e eles me responderam que são os grandes players e o mid-market (players de tamanho médio), não tendo muito foco em pequenas empresas. O Converge Health no Brasil serviria principalmente para os 50 maiores hospitais do país.
Mas a solução também é útil para empresas farmacêuticas pelos dados clínicos que gera, até o FDA mostrou interesse na solução de acordo com Mitch. A solução pode mostrar para esse clientes como determinadas drogas e produtos funcionam no “mundo real”, bem como produtos dos concorrentes.
Mitchell Morris, médico, deu o exemplo: “Demoramos 8 anos para perceber que o Vioxx fazia mal e proibí-lo. Se tivessemos esse software antes, poderíamos ter percebido isso bem antes”.
Falamos ainda sobre os papéis do CIO (Chief Information Officers) e do CMOs (Chief Medical Officers) nesse processo. Mitch e Doug falaram que esses papéis estavam sendo insuficientes e que está crescendo o número de CMIOs (Chief Medical Information Officers), que fazem a interface entre os médicos e a equipe de TI.
Enrico De Vettori, falou sobre o novo lema de Deloitte no Brasil: “Reshape your Advisory”, dizendo “Nós precisamos de respostas mais robustas dos nossos consultores, e é isso que essas soluções podem trazer. Queremos dar aos hospitais um dashboard onde o CEO consegue ler o que está acontecendo na organização”. Cada vez as empresas investem mais, com um time enorme, e o CEO não consegue ler analizar os dados produzidos. Queremos um CEO-glass”.
O ConvergeHealth pode ser contratado por subscrição, com preço baseado no tamanho da empresa e na necessidade do cliente. A prática de saúde na Deloitte Brasil tem 250 pessoas hoje, e se continuar o apetite dos gringos e o lançamento de novos produtos, esse número deve continuar crescendo cada dia mais rápido.