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Eles podem não ser maioria, mas têm a força. Em fevereiro, apenas 13% dos investidores da bolsa brasileira tinham mais de 66 anos. Apesar de poucos, eles concentravam 40% do patrimônio aplicado. No mês, segundo a BM&FBovespa, cada investidor dessa faixa etária tinha em média R$ 594 mil aplicados na bolsa. Nesse grupo está o arquiteto aposentado Sergio Lazaro Dantas, de 76 anos, que comprou suas primeiras ações em 1967. Formou um portfólio com Fábrica de Tecidos Dona Isabel, Companhia Siderúrgica Belgo Mineira, Brahma e Souza Cruz. "Ganhei muito dinheiro", afirma Dantas, que vendeu os papéis em 1971 para comprar sua primeira casa.

Dantas se afastou um pouco da renda variável enquanto acumulava patrimônio. "Era arquiteto da Caixa Econômica Federal, construí aquele prédio grande, no centro da cidade", conta orgulhoso em referência à sede carioca do banco, na Avenida Rio Branco. Há cinco anos, aposentado, decidiu voltar às compras. Recheou a carteira de ações de empresas de energia elétrica, em busca de dividendos polpudos. Agora está de olho em ações menos líquidas, as chamadas "small caps". "Sou arrojado", diz Dantas, que não se intimida com as novas tecnologias. Para testar algumas das estratégias antes de implementá-las na vida real, Dantas decidiu usar o simulador Valor em Ação como laboratório. "Gosto de aprender novidades, ver o que está acontecendo, testar algumas coisas", diz.

A oscilação dos papéis não tira o sono. "Não quero saber o que vai acontecer com a bolsa, compro a empresa". É um investidor de longo prazo, que se recusa a mexer no principal. Saca apenas o rendimento e limita-se a vender R$ 20 mil em ações por mês para não ter que pagar imposto de renda.

Quando Dantas vendeu as ações pela primeira vez, na década de 70, foi a contragosto, porque a esposa queria comprar uma casa. Em período de inflação alta, fez uma proposta indecente ao vendedor: prestações a perder de vista. "Era só para minha mulher não achar que eu estava de má vontade", confessa. O vendedor foi traído pela confusão monetária causada pela escalada de preços e o excesso de zeros. "Ele aceitou", diz decepcionado. Com a perda rápida de poder de compra do dinheiro, o valor das últimas parcelas era baixíssimo. "Tinha o dinheiro no bolso", conta Dantas.

Quarenta anos depois, o arquiteto continua no mesmo imóvel e, com os ganhos da bolsa, comprou a casa da frente para um dos quatro filhos. Dessa vez de boa vontade, para ficar perto dos netos. São oito, para quem ele busca repassar as lições de guardar e investir. "Mas não adianta muito, não. Os jovens de hoje têm muita dificuldade em poupar", diz, conformado.

Outro usuário do simulador Valor em Ação, o advogado Clóvis Dutra, de 76 anos, também se preocupou em deixar ensinamentos financeiros aos três filhos. Abriu uma poupança para cada um logo que nasceram. Passou também à frente uma regra que aprendeu com americanos em dois anos de trabalho nos EUA. "Eles separavam 20% dos ganhos para o futuro. A prioridade era comprar uma casa e depois financiar a faculdade dos filhos".

As primeiras ações compradas por Dutra, ainda na década de 60, foram da americana Dow Chemical Company, empresa em que ele trabalhava. Logo tomou gosto pelos altos rendimentos, que a poupança não oferecia. Partiu para Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Petrobras e Banco Itaú. "Tenho as ações até hoje, não sou especulador, mas investidor", afirma.

Foto: Sergio Dantas, de 76 anos, usa o simulador Valor em Ação como laboratório: "Sou arrojado" (Valor Econômico)

O atual apartamento de Dutra foi comprado com os rendimentos de ações. Ao longo dos anos, ele reduziu sua exposição ao risco. "Hoje tenho 15% em renda variável e o restante em fixa, em função da minha idade", diz. As aplicações se concentram em boas pagadoras de dividendos, como Eletropaulo e Cielo, e ações de primeira linha, como Vale e CSN. "Acompanho a evolução das ações pela internet e tenho uma planilha em que mensalmente faço avaliação das minhas aplicações", conta.

A tese de que o investidor deve ser mais conservador à medida que a idade avança não é regra segundo o administrador de investimentos Fabio Colombo. "Se a pessoa for muito rica e tiver uma reserva em renda fixa que é suficiente para o resto da vida, pode aplicar o excedente em bolsa", afirma.

Desde que a BM&FBovespa começou a apurar a parcela de investidores com mais de 66 anos, ela só cresceu. Passou de 9,6% em 2009 para 12,9% em 2012. Com a queda da taxa básica de juros, que torna as aplicações em renda fixa menos atraentes, Colombo acredita que a renda variável seja cada vez mais procurada para as aplicações da aposentadoria.

Colombo sugere que o idoso estime o volume de recursos necessários para manter o padrão de vida nos próximos anos e destine o restante às ações. Para quem não chegou com todo esse conforto financeiro à aposentadoria, mas tem boas reservas, ele sugere dedicar de 10% a 20% dos recursos à renda variável.

A regra, então, é diversificar. "Recomendo ter no mínimo 15 papéis", diz o administrador. Comprar somente boas pagadoras de dividendos também não é ideal, diz ele. "Prefiro empresas que aplicam no negócio e têm retorno do que aquelas que pagam dividendos".

Para os que não conhecem muito do mercado acionário ou não querem ter muito trabalho com ele, Colombo sugere investir em fundos de ações. "Normalmente nessa fase da vida a pessoa quer mais lazer e menos dor de cabeça", afirma. É importante pesquisar a taxa de administração, que costuma ser mais baixa quanto maior for o volume de recursos.

A idade não trouxe esse desejo de comodidade para o aposentado Ernesto Heisler, de 82 anos. Assim como quando começou, aos 19 anos, ele mantém o investimento direto em ações. No caso dele, há o peso das primeiras experiências em bolsa, que foram muito positivas, especialmente na década de 60. "As ações estavam a preço de banana e ninguém acreditava que iam subir porque a situação estava muito ruim para as empresas, só se falava em regime comunista", afirma.

Na contramão, Heisler comprou ações da Companhia Siderúrgica Belgo Mineira e do Banco do Brasil, pelas quais diz ter pagado centavos. Veio então o golpe militar de 1964. "Em uma semana, as ações subiram 80%", conta. Projetista de grandes obras, como da usina siderúrgica da Usiminas e da usina nuclear Angra II, Heisler sempre destinou uma parte de seus ganhos à renda variável. "Gosto de comprar ações sólidas e ficar com elas anos a fio. Quando o preço delas cai, compro mais", diz o aposentado, que se recusa a embarcar no que chama de ações da moda. "Elas sobem muito e depois ninguém mais fala nelas".

O portfólio de Heisler tem Petrobras, Vale, Souza Cruz e algumas empresas menores, boas pagadoras de dividendos. "Assim aumento meu salário e posso viajar todo ano para a Europa", afirma. Será que foi lá em que ele encontrou a fonte da juventude? Aos 82 anos, quando a maior parte das pessoas da sua idade quer distância de novas tecnologias, Heisler decidiu experimentar o simulador de ações que encontrou no site Valor. "Sempre comprei ações falando com o corretor, mas como as empresas estão toda hora fazendo propaganda do home broker, aproveitei o simulador para ficar por dentro das coisas".

 Fonte: Luciana Seabra, Valor Econômico, 27/03/12