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Como saber se é hora de crescer ou vender?

Visão de contexto interno e externo, transparências nos dados, governança corporativa, estimular pessoas, todos aspectos que devem ser avaliados na hora de vender ou optar por parcerias financeiras

O sonho é o começo de qualquer empresa. O desejo de dar certo, de angariar clientes, de atender necessidades, de ser reconhecido, exemplo a ser seguido, de servir, ditar tendências, ser bem sucedido e assim vai. Muitos são os estímulos para criar uma organização, marca ou serviço. A medida em que o tempo passa e, com ele, a trajetória do negócio, é comum chegar a um novo momento de decisão: crescer ou vender?

A indagação pede uma decisão e para que ela seja acertada, considerando as infinitas possibilidades de situação de cada companhia, um debate no Saúde Business Forum 2014 se propôs a apontar um norte aos gestores para quando este momento chegar.

Para isso, três executivos que se depararam com tal circunstância e um consultor experiente em analisar caminhos para que as empresas atinjam seu objetivo de valor participaram da discussão.

Foram eles: Delfin Gonzalez, sócio fundador do grupo de diagnóstico Delfin Imagem, que recebeu no final de 2012 aporte financeiro da Kinea, gestora de fundos alternativos do banco Itaú; Jair Monaci, representante da Latin Finance e ex-vice-presidente da Lincx Sistemas de Saúde, comprada pela Amil em 2011; George Schahin, presidente do Hospital Santa Paula, que em outubro de 2005 vendeu a maior parte de suas ações ao grupo ESHO, coligado da Amil; e Marcos Simões, sócio- diretor da Jequitibá Investimentos e ex-CFO do Hospital São Luiz, adquirido em 2010 pela rede carioca D´Or.

Para decidir, é preciso ter visão
Olhar o contexto do setor, mais especificamente da área de atuação em jogo, como andam os processos e valores internos, assim como as relações e a situação financeira, são pontos importantes a serem analisados.

Na visão de Monaci, ex-Lincx, ser atrativo aos investidores, seja com o intuito de crescer ou vender a operação, é um atributo construído ao longo do tempo. “Ninguém começa uma empresa pensando em vender. O preparo [para crescer ou vender] vai sendo feito desde a concepção de abrir uma companhia”, disse.

Como o grande diferencial da Lincx era o relacionamento conquistado com a classe médica e ser referência no atendimento voltado para a classe A, segundo Monaci, o mais difícil foi fazer a transição da filosofia. Por isso, o fundador da Lincx, Silvio Corrêa da Fonseca, continuou à frente da operadora, que acabou se juntando a One Health, plano de saúde premium criado pela Amil.

Ter uma governança corporativa estruturada certamente é um aspecto importante para o sucesso da negociação, mas nem sempre primordial. No caso do Hospital Santa Paula, por exemplo, a governança veio depois do controle da Amil. “Não havia governança antes, nem Conselho, auditoria, nada. Passou a ter depois”, contou Schain, que ainda detém 20% do capital do Santa
Paula e participa de outros conselhos administrativos de hospitais pertencentes ao Edson Bueno. “Tenho que trocar o chapéu para o bem do Santa Paula, para não ficar isolado, senão perderia as sinergias de pertencer a um grupo”.

Para Schain, a imagem foi o valor mais importante no caso do Santa Paula e, em segundo lugar, a rentabilidade. “Com uma volta no corredor do hospital dá para saber quanto que está o Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da instituição. Atualmente o Santa

Paula possui 200 leitos e projeta faturar em 2014 R$ 262 milhões.

 
No caso da rede de clínicas Delfin, referência no nordeste brasileiro, Gonzalez destacou a transparência nos dados para receber o aporte de R$ 70 milhões do Kinea Investimentos juntamente com a promessa de triplicar a empresa. “É preciso fazer com que todos entendam que o acionista minoritário é igual ao majoritário. O departamento financeiro tem dificuldade de entender que 0,5% e 51% é a mesma coisa e as informações devem ser compartilhadas para todos os sócios da mesma maneira”, ressaltou.

O consultor Simões, da Jequitibá Investimentos, lembrou que o prestador de saúde tem que pensar em qual investidor está interessado e se a sociedade será apenas com fins financeiros ou de gestão. “Quando o melhor que a empresa tem está do lado de fora, a imagem e o mercado, a troca de pessoas pode ser substancial”, disse. Entretanto, das oito transações (entre compra e venda) do setor de saúde que Simões acompanhou nos últimos quatro anos, cinco mantiveram o gestor no cargo de liderança. “Há muitos contratos de compra e venda em que a manutenção dos fundadores é obrigatória, haja vista a United com a Amil”.

“O maior valor de uma empresa de sucesso sempre são seus colaboradores. Quanto mais o estimularem, mas resultados e atratividade terão”, defendeu Gonzalez, do Delfin.

Apesar de um conjunto de fatores ser determinante para a decisão de vender a companhia, estabelecer uma sociedade, buscar investidores etc., o consenso entre os executivos é de que não há vencedores ou vencidos, apenas um propósito: o de manter a chama do sonho acesa, nem que para isso seja preciso readequar-se, mudar pessoas e estratégias.