A chegada do paciente ao pronto-socorro, seu primeiro atendimento, internação e prescrição de tratamento sempre foi uma operação que gerava diferentes receitas e anotações fragmentadas. Gradativamente com a implantação do prontuário eletrônico, os hospitais começam a dispensar o papel e contar com uma base de dados única sobre tudo que acontece com os doentes.
A digitalização das informações permitiu ao Pronto Socorro do Hospital Municipal Odilon Behrens, de Belo Horizonte, automatizar o processo de classificação de risco do paciente, um de seus grandes gargalos. A partir de informações coletadas pelos enfermeiros, o sistema avalia os diferentes graus de emergência, apontando o tempo que deverá ser atendido. "Com esse recurso é possível cruzar horários entre pacientes e equipe, permitindo alocação de mais pessoal em determinados períodos e até justificar a contratação de enfermeiros", diz Danilo Borges, gerente do Pronto Socorro do Hospital Municipal Odilon Behrens.
O hospital recebe 450 pessoas por dia 24 horas, com um total de 14 mil pessoas por mês, atendendo pelo SUS e digitalizou seus processos com um sistema de saúde da Alert, empresa portuguesa. O médico quando recebe o paciente, tem todas as informações em seu computador e envia pedidos de exames de forma digital. "Uma das grandes queixas, a caligrafia do médico, não é mais um obstáculo para o entendimento do exame e dos medicamentos prescritos."
A rede pública também caminha para a consolidação de informações. O Distrito Federal tem um projeto de saúde que inclui a integração de dados de gestão e dos prontuários médicos dos pacientes de 14 hospitais e 17 laboratórios, uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e 63 centros de saúde públicos com um sistema fornecido pela Intersystems. Um portal consolida os exames de cerca de 2,5 milhões de pacientes e seus prontuários com histórico médico, incluindo consultas, diagnósticos e exames. "Havia muita perda de exames e a necessidade de refazê-los. Com o armazenamento eletrônico foi possível reduzir esses gastos em 50%", diz Ruy Demes, diretor de produção da subsecretaria de tecnologia de informação e saúde da Secretaria da Saúde do Distrito Federal.
Os hospitais da rede pública já nascem com um projeto digital. Inaugurado em 2008, o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), integrante do Sistema Único de Saúde (SUS) desenvolveu um sistema de assinatura eletrônica para dar mais segurança ao prontuário. O objetivo foi garantir a identificação em todos os passos, de quem, quando, onde, e como foi executado um procedimento. Segundo o diretor de operações de tecnologia da informação, Kaio Bin, ao prescrever um medicamento, o médico não precisa mais esperar o prazo da enfermagem para assinar a prescrição em papel: o pedido eletrônico é válido e tem acesso simultâneo para todas as áreas envolvidas.
O hospital desenvolveu um código e um login vinculado a uma pessoa certificada pela Certisign. A primeira assinatura eletrônica em um hospital foi gerada em 2010 na UTI do Icesp em um processo que demorava cerca de dez minutos. "Hoje, em apenas 1:47 minuto o prontuário e as prescrições são certificadas. O médico pode imprimir, mas o papel é apenas uma referência." Com o sistema a enfermeira recebe a prescrição do medicamento no computador, confere e confirma o horário de administração do remédio, a farmácia gera uma pendência, separa e envia a dose. Se a prescrição for suspensa tudo é barrado automaticamente.
Fonte: Ana Luiza Mahlmeister,Valor Econômico, 29/03/2012