O que acontece quando um homem que ficou rico vendendo carros entrega milhões de dólares para uma cientista e diz a ela como gastá-los? Pessoas que estão assistindo a conferência da Associação Americana de Diabetes que começou hoje em São Diego (EUA) estão tendo dicas da resposta a essa pergunta. Denise Faustman, diretora do laboratório de imunobiologia do Hospital Geral de Massachussets (MGH) está apresentando dois resumos de um estudo clínico criado pelo Iacocca Family Foundation com base em Boston, criado pelo antigo CEO da Chrysler Lee Iacocca para apoiar pesquisas que busquem a cura para o Diabetes tipo 1.
Dados de Faustman mostram que baixas doses de uma vacina de 80 anos de idade temporariamente revertem Diabetes tipo 1 na primeira fase do estudo com humanos. A vacina é a BCG, que foi desenvolvida para prevenir tuberculose e agora está disponível como um medicamento genérico. A BCG induz o sistema imunológico a produzir o Fator de Necrose de Tumor (TNF), que mata as células T que fazem com que o pâncreas pare de produzir insulina.
O time de Faustman foi a Fundação Iacocca para receber financiamento após ter portas fechadas em suas caras repetidamente por farmacêuticas. Os cientistas do Hospital fizeram vários testes em animais mostrando que era possível regenerar o pâncreas e então restaurar a produção de insulina em modelos diabéticos. Mas quando os cientistas foram a indústria farmacêutica procurando financiamento para a pesquisa de uma droga que regenera o pâncreas, “todos diseram ‘vocês estão revertendo a doença. Como que nós vamos ganhar dinheiro?’” conta Faustman.
Então os cientistas do Hospital passaram anos procurando por uma droga genérica que estimulasse a produção do TNF. A Fundação Iacocca apoiou muito desse trabalho, que envolveu a análise sanguínea de milhares de pacientes diabéticos e a comprovação de que eles podiam usar o TNF para matar as células T ruins. “Um dia, Sr. Iacocca me olhou e disse, ‘Denise, quando que você irá curar a Diabetes’” lembra Faustman.
Iacocca instruiu Faustman a mostrar que a técnica trabalhada em um estudo com ratos funcionou, para que isso pudesse eventualmente ser testado em humanos. “Ninguém nunca havia revertido Diabetes em um rato” ela diz. “A filantropia pode assumir riscos. Ele deixou claro que era o dinheiro dele e que ele queria terapias arriscadas realizadas”. Então a fundação colocou U$10 milhões para a primeira fase do estudo com humanos. Tudo sendo dito, o grupo Iacocca é o maior dono único da pesquisa de Faustman.
Essa primeira fase foi designada a responder quarto questões primordiais sobre a BCG, conta Faustman. “Ela mata as células T ruins? Ela induz as boas células T? Ela muda o pâncreas? Ela reinstala a secreção de insulina?” Os dados, ela conta, “mostram respostas positivas nos quatro resultados.”
Uma ressalva, diz Faustman, é que a droga produz um efeito transitório. O que significa que deverá ser tomada em intervalos repetitivos, talvez a cada quatro ou seis semanas. Ainda, diz Faustman, “esse sera o primeiro dado mostrando que o pancreas pode ser restaurado.”
Iacocca fundou sua fundação em 1984 em honra a sua ultima esposa, Mary, que morrei de complicações da Diabetes tipo 1. A fundação não quis comentar essa história. Mas Kathryn Iacocca Hentz – president da fundação e filha de Lee – disse em um discurso “Esses resultados são muito significantes para a família Iacocca. Nós temos apoiado esse trabalho desde que os primeiros estudos em ratos mostraram a reversão da Diabetes de longa duração”.
A fundação deu um presente de tamanho imensurável ao Hospital para apoiar a segunda fase do programa que os cientistas estão planejando agora. O hospital arrecadou U$$8.5 milhões dos U$25 milhões que serão necessários para apoiar o estudo durante os próximos três anos. Faustman diz que eles precisaram de outros parceiros para arrecadar financiamento adicional, ela está certa de que eles não teriam chegado tão longe sem a ajuda do antigo CEO da Chrysler. “Você deve se perguntar como um homem que construía carros sabia o que nós precisávamos fazer,” ela diz. “Mas ele sabia quais riscos tomar.”
Fonte: Xconomy (Arlene Weintraub)
Traduzido por Marina Ivanenko