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Como a crise econômica está afetando a saúde da Grécia?

A crise da dívida grega vem atingindo duramente a saúde da nação: o número de suicídios está aumentando, mais pessoas estão usando drogas e se prostituindo, e crescem rapidamente as taxas de infecções por HIV, disseram ontem pesquisadores.

Brutais cortes orçamentários e crescente desemprego estão levando mais pessoas a depressões graves e à dependência de drogas, e os cortes nos orçamentos hospitalares e dos serviços de saúde implicam que menos pessoas podem consultar-se com seus médicos ou ter acesso a ajuda. "O cenário da saúde na Grécia é preocupante", disse David Stuckler, sociólogo da britânica Universidade de Cambridge que reportou suas descobertas na revista médica "The Lancet". "Estamos vendo tendências preocupantes: o dobro de suicídios, homicídios em alta, aumento de 50% nas infecções por HIV e as pessoas vêm relatando que sua saúde piorou, mas não vão ao médico embora julguem necessário".

Há dois anos, o governo grego vem impondo duras medidas de austeridade para enfrentar uma montanha de dívida, depois que o país mergulhou em sua pior recessão em 40 anos e foi obrigado a aceitar uma ajuda da UE e do FMI.

Acredita-se que a Grécia fique sem dinheiro já em meados de novembro. Fiscais da União Europeia, do Fundo Monetário Internacional e do Banco Central Europeu - a chamada "troika" - atualmente avaliam se Atenas cumpriu os critérios para receber mais ajuda.

Enquanto isso, empresas são fechadas, o setor público encolhe e a taxa de desemprego supera os 16%. Cortes no orçamento da saúde também levaram a Grécia a reduzir os preços que pagará por medicamentos, gerando preocupações com os suprimentos.

A equipe de Stuckler descobriu que os suicídios cresceram 17% em 2009, em comparação com 2007, e disse que os dados não oficiais citados no Parlamento grego apontam para aumentos ainda maiores, de 25 a 40%. Em relatos que chocaram os atenienses, noticiou-se que um ex-homem de negócios saltou para a morte deixando uma nota dizendo que a crise financeira o levara a isso. E o dono de uma pequena firma varejista foi encontrado pendurado numa corda amarrada a uma ponte. Sua nota de suicídio, dizia simplesmente: "Não busquem outras razões: a crise econômica levou-me a isso".

Martin McKee, da London School of Hygiene and Tropical Medicine, que trabalhou no time de Stuckler, disse que outros países europeus em dificuldades devem prestar atenção a esses fatos. "A experiência da Grécia é uma advertência para o que pode acontecer, se houver grandes cortes nos sistemas de saúde em face de uma recessão", disse ele.

Um estudo anterior de McKee, Stuckler e outros em julho concluiu que as taxas de suicídio na Europa aumentaram substancialmente em 2008 e 2009, à medida que a crise financeira elevou o desemprego e diminuiu as rendas. Grécia e Irlanda foram os países mais atingidos.

No estudo publicado ontem, os pesquisadores dizem também ter verificado um aumento significativo de infecções por HIV na Grécia no fim de 2010 e disseram que os dados sugerem que novas infecções com o vírus causador da AIDS crescerão 52% neste ano.

As taxas de consumo de heroína subiram 20% em 2009 e, ao mesmo tempo, enquanto cortes orçamentários implicaram uma redução de um terço nos programas de trabalho para ajudar viciados nas ruas a se prevenir contra o HIV. Stuckler citou relatos de que usuários de drogas estão infectando-se deliberadamente com o HIV para ter acesso a benefícios de 700 euros (R$ 1.680) por mês e admissão mais rápida a programas de substituição de drogas.

Fonte: Valor Econômico, 11/10/2011