Líder global em medicamentos biológicos (desenvolvidos a partir de células vivas), a multinacional suíça Roche começa a ter seu reinado ameaçado no Brasil. A Bionovis, empresa recém-criada pelas farmacêuticas brasileiras Aché, EMS, Hypermarcas e União Química para investir somente em remédios biológicos e biossimilares, vai concorrer nesse mesmo segmento e deverá lançar produtos voltados para tratamentos de alta complexidade, seara até então explorada pelos grandes laboratórios estrangeiros.
A nova companhia pretende lançar a versão biossimilar de importantes medicamentos, como, por exemplo, Mabthera e Herceptin, ambos para câncer, desenvolvidos pela Roche; e o Enbrel, da Wyeth (Pfizer), usado no tratamento de artrite rematoide, considerados produtos de alto desenvolvimento tecnológico.
Idealizada como a superfarmacêutica nacional, com apoio do governo federal, a Bionovis pretende atuar em um mercado que movimenta no país cerca de R$ 10 bilhões por ano, incluindo as vendas realizadas para o Sistema Único de Saúde (SUS) e para o setor privado. O governo representa 60% dessas compras.
Pioneira nesse segmento, a Roche terá a perda de patentes de importantes medicamentos dessa área, como o Herceptin, que expira no Brasil a partir de 2014, e enfrentará a concorrência da Bionovis que pretende lançar medicamentos biossimilares de produtos desenvolvidos pela multinacional, além de ter seu próprio pipeline. O principal mercado para os produtos biológicos é o governo federal, que deverá priorizar a compra de produção local.
Ao Valor, o presidente global da Roche, Severin Schawn, afirmou que esse tipo de concorrência faz parte do negócio. No entanto, diferentemente de uma molécula sintética, o desenvolvimento de um biossimilar é mais complexo, considerando a linhagem celular.
Adriano Treve, presidente da Roche no Brasil, afirmou que a companhia deu início a negociações com o governo brasileiro para discutir a produção de biológicos no país, mas essas conversas ainda não estão amadurecidas. A ideia é fazer PPP (Parceria Público Privada). Discussões de transferência tecnológica de medicamentos complexos da multinacional para o país também não estão descartadas, mas não foi fechado nenhum acordo nesse sentido até o momento.
Os aportes para se erguer uma fábrica de biológicos são altos. A mais recente unidade de biológicos da Roche, construída na Basileia, na Suíça, para a produção do Avastin (câncer de mama e de colo) consumiu cerca de US$ 450 milhões. Para erguer uma unidade de medicamentos sintéticos, por exemplo, o investimento seria até cinco vezes menor.
Odnir Finotti, presidente da Bionovis, afirmou que a nova companhia está disposta a investir pesado na produção desses medicamentos e parcerias com companhias detentoras dessas tecnologias não estão descartas. Por enquanto, a Bionovis não iniciou conversas para futuras parcerias. "Sabemos que vamos encontrar resistências de empresas com tradição nessa área, mas a estratégia de defesa dessas companhias são alegar a falta de competência do país, exercendo influência na classe médica e junto aos pacientes", disse.
Em cerca de 90 dias, a Bionovis deverá anunciar onde será construída sua fábrica. A nova empresa fará investimentos de R$ 500 milhões nos próximos cinco anos. As quatro empresas têm participação de 25% cada na companhia - que terá o apoio financeiro do BNDES. O aporte inicial será de R$ 200 milhões. A previsão que o registro do primeiro medicamento da companhia seja feito nos próximos meses.
A produção de biológicos no Brasil é ainda incipiente. A nacional Cristália possui pesquisas nesse sentido, mas sem produção comercial ainda. Uma outra joint venture para biológicos, a exemplo da Bionovis, também poderá ser criada, juntando Eurofarma, Biolab, Libbs e Cristália. Essas companhias também teriam o apoio do BNDES.
Fonte: Mônica Scaramuzzo, Valor Econômico, 28/03/12