Quando a crise atropelou o Brasil, em 2014, as pessoas apostavam na quebradeira das operadoras, mas quem é do ramo sempre disse que isso era bobagem. Com a queda do número de beneficiários veio uma maré de descrença sobre a opinião das pessoas do ramo, mas nada como o tempo para provar que estavam certas.
Os dados da ANS comprovam:
Ano (Receita – Despesa) Nº Beneficiários Diferença per capita
2003 5.275.821.397 32.074.667 164,49
2004 5.981.154.206 33.840.716 176,74
2005 6.789.427.399 35.411.349 191,73
2006 8.449.288.157 37.248.388 226,84
2007 9.912.951.430 39.316.313 252,13
2008 11.661.651.025 41.468.019 281,22
2009 10.951.366.939 42.451.398 257,97
2010 13.745.457.768 44.921.064 305,99
2011 14.508.105.648 46.145.515 314,40
2012 14.027.114.885 47.894.565 292,87
2013 17.628.192.408 49.545.919 355,80
2014 18.766.658.916 50.809.249 369,36
2015 23.197.109.555 49.214.437 471,35
2016 24.443.060.732 47.683.530 512,61
2017 20.539.425.171 47.303.952 434,20
A coluna (receita – despesa) representa a diferença entre o valor arrecadado das operadoras com seus beneficiários, menos a despesas das contraprestações (o pagamento aos serviços de saúde) – queda insignificante, nos últimos anos.
A coluna (nº de beneficiários) representa o número de beneficiários dos planos de saúde – queda insignificante nos últimos anos.
Dividindo uma pela outra chegamos ao que chamo de “Diferença per Capta” e basta observar para ver que a maior crise financeira da história do país não chegou nem mesmo a arranhar o mercado da saúde suplementar. É fato: tente se lembrar das pessoas próximas que passaram por dificuldade neste período de crise financeira que, Graças a Deus, está acabando – do total de pessoas conhecidas, quantos são da área da saúde, e quantos não são ? A resposta da sua pergunta deve ter sido que da área da saúde é a minoria !
A “Diferença per Capta” é o ticket médio de rentabilidade que discutimos nos cursos e oficinas de custos e formação de preços, e a evolução da saúde suplementar é largamente discutida nos cursos e oficinas de gestão comercial, faturamento e auditoria de contas hospitalares, portanto são conceitos maduros, com alguns anos de evolução guiada pelos próprios gestores de hospitais, clínicas, centros de diagnósticos e consultórios.
Os dados da ANS não permitem a estratificação mais adequada porque a contraprestação tem o viés de conter o valor pago pelas medicinas de grupo e cooperativas para a sua rede própria – se tivéssemos separado isso, o resultado desta tabela indicaria que atuar na operação de planos de saúde no Brasil é um dos melhores negócios do mundo. É fato: se não fosse, é óbvio que não teríamos tanto capital estrangeiro investindo na saúde suplementar no Brasil – hoje podemos afirmar categoricamente que a saúde suplementar está totalmente dominada pelo capital estrangeiro. A exceção ainda está nos planos de saúde regionais e cooperativas, que quando bem administradas estão “nadando de braçada”.
O mercado da saúde do Brasil nunca esteve tão polarizado: enquanto a saúde pública agoniza em consequência da baixa especialização, fruto principalmente da existência de um sistema de financiamento (SUS) e da ausência de um sistema de saúde, a saúde suplementar está organizada para obter o máximo de lucro que a saúde suplementar (sistema de financiamento) oferece, sem nenhum pudor em também não ser um sistema de saúde – se o governo, que tem obrigação, não tem um sistema de saúde organizado, por que uma empresa privada se proporia a fazer isso ?
Saúde Suplementar está tão focada no lucro que em uma pesquisa recente que fiz, as maiores propagandas em revistas do último ano (propagandas de página inteira, por exemplo) são de planos de saúde, hospitais públicos e medicina alternativa – um negócio como outro qualquer, que tem mais dinheiro do que montadoras de veículos ou empresas de tecnologia, para bancar caríssimas campanhas de marketing !
O único “estranho no ninho” na saúde suplementar é a empresa de auto-gestão. Coitadinha, está em um mercado que se sustenta em torno do lucro, e não visa lucro ... é morte certa porque a regulação é a mesma para ela, que só pensa na saúde dos seus beneficiários, e para as demais operadoras, que pensam exclusivamente no lucro que a carteira vai gerar no final do exercício.
Enquanto as demais operadoras nadam de braçada elas agonizam, porque para obter lucro:
- A carteira de beneficiários da operadora tem que crescer – na auto gestão decresce;
- A operadora deve maximizar a rede própria – a auto gestão não tem rede própria;
- A faixa etária da carteira de beneficiários deve preferencialmente ser baixa – na auto gestão praticamente a cada ano, a média de idade cresce 1 ano.
Ou seja, tudo que favorece atuar na saúde suplementar acontece ao contrário na auto gestão, e por isso estamos vendo algumas das grandes com enorme dificuldade em se sustentar ... e a cada dia que passa, a situação só tende a piorar.
Nós sabemos que este modelo da saúde suplementar não se sustenta – é questão de tempo para chegar ao colapso, e isso é fato, porque os custos com a saúde chegaram à base do insuportável.
Mas enquanto este sistema de financiamento não muda – enquanto o modelo for este – vale muito a pena operar planos de saúde ... os investidores estrangeiros que o digam !!!!!
Se você entender como um negócio lucrativo, e não tentar resolver o problema de saúde de comunidades ou da população (ninguém conseguiu fazer isso no mundo todo), operar planos de saúde é um negócio fantástico !