Antes de iniciar o jogo Brasil x Croácia, houve um grande exemplo de avanço da ciência e da medicina: o pontaté inicial proporcionado por um paraplégico utilizando um exoesqueleto, chamado de "BRA-Santos Dumont I", construído pela equipe do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis. O lance só pôde ser visto por dois segundos na televisão, mas ele tem um valor muito mais significante para a ciência mundial.
O exoesqueleto foi usado por Juliano Pinto, de 29 anos, que tem paraplegia completa de tronco inferior e membros inferiores. O voluntário foi ajudado por integrantes do projeto "Andar de Novo" e vestia o exoesqueleto na beirada do campo. Juliano deu um passo com a perna direita e chutou a bola, tendo esta recolhida por um ator vestido de árbitro.
Nos anos 2000, Miguel Nicolelis e o seu time realizaram diversos estudos e mostraram que um macaco foi capaz de controlar dois braços robóticos ao mesmo tempo: um em Duke e o outro em Massachusetts. Outro macaco foi capaz de controlar um controle de vídeo-game somente imaginando que ele estava se mexendo. Os estudos avançaram e a equipe foi autorizada a implantar sensores em cirurgias de 11 pacientes com Parkinson. A cirurgia era para os pacientes receberem estimulação cerebral profunda e, durante o procedimento, os pacientes aprenderam a controlar o jogo com suas mentes. Os estudos foram desenvolvidos e chegaram a um nível de complexidade suficiente para que, ontem, aquele chute simbólico fosse dado.
Miguel Nicolelis, após a aparição do seu exoesqueleto, comemorou e referiu em um comunicado de imprensa que "foi um grande trabalho de equipe e destaco, especialmente, os oito pacientes, que se dedicaram intensamente para este dia. Coube a Juliano usar o exoesqueleto, mas o chute foi de todos. Foi um grande gol dessas pessoas e da nossa ciência”
O laboratório de Miguel Nicolelis é na Universidade Duke, nos Estados Unidos e ele foi responsável por encabeçar o projeto do exoesqueleto junto ao seu laboratório na Universidade e ao Instituto Internacional de Neurociências de Natal. A interface cérebro-máquina é um dos objetos de exploração de Miguel Nicolelis há mais de dez anos e ela prevê que o pensamento seja capaz de controlar uma máquina externa.
Para o exoesqueleto, o voluntário usou uma touca para captar atividades elétricas cerebrais que, quando o voluntário imagina-se caminhando, os sinais produzidos pelo seu cérebro são enviados a um receptor na máquina já atrelada ao seu corpo. Os sinais são decodificados e enviados aos membros do exoesqueleto.
Além disso, também é feita uma transferência sensorial, em que os sinais sentidos pela superfície inferior da máquina são transferidos para o braço do usuário, permitindo que este tenha o feedback sensorial do contato dos pés no chão.
O trabalho de Miguel Nicolelis é de grande valia e orgulho para o Brasil e a ciência como um todo. Ele é graduado em Medicina pela Universidade de São Paulo, teve grande influência do professor César Timo-Iaria e cursou seu doutorado em Fisiologia Geral, ainda na USP, e o pós-doutorado na Filadélfia.
No mundo, já há outros projetos com exoesqueleto, como da empresa israelense Rewalk, mas, segundo o próprio Nicolelis, "não existe outro exo controlado por atividade cerebral q forneça feedback tátil".
Um vídeo com uma entrevista com Miguel Nicolelis sobre o exoesqueleto pode ser assistido aqui:
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=LO5pq1Qz334[/youtube]
O vídeo, cortado pela TV Fifa, com o pontapé inicial da Copa do Mundo de 2014 pode ser visto aqui:
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=opdw75aU9yY[/youtube]
Parabéns à todos os envolvidos no projeto. É um orgulho ver brasileiros à frente desse feito, e uma pena não ter sido mais divulgado.