A época é propícia para tocarmos no assunto.
Naturalmente não iremos falar nesse espaço sobre as manifestações populares que vem se espalhando pelo mundo, turbinadas pelas redes sociais e sobre as quais todos já temos lido o bastante em outros blogs. O tema deste post se refere à utilização cada vez mais frequente da expressão “revolução digital”, e mais especificamente à onipresença do termo “revolução digital na saúde” nas manchetes americanas sobre o processo de digitalização que vem varrendo os EUA nos últimos anos.
Apesar da distância entre os dois tipos de revolução – aquela que arrebenta nas ruas e a outra, que explode em silêncio nas diversas telas que nos rodeiam- alguns paralelos podem ser traçados sem exagero, a começar pelo fato de que ninguém protagoniza uma revolução sozinho.
Também podemos lembrar que não é fácil identificar uma causa única dentre as tantas razões que fazem a idéia de uma revolução, qualquer que seja, atingir um certo grau de maturidade: problemas econômicos, agitação social, restrições de liberdade, aumentos de impostos...
Sim, de uma maneira geral é possível afirmar: uma revolução não ocorre porque as pessoas estão felizes. Sempre é necessário que haja uma grande nuvem de insatisfações pairando sobre as cabeças de muitos. E algo capaz de a precipitar. Foi assim que iniciou-se uma revolução digital na saúde americana. Um país que gasta muito com saúde, não enxerga os reflexos destes gastos na população assistida e que ainda deixa uma porção de gente excluída do sistema. Como uma mão tem que levantar a bandeira e precipitar as mudanças, o Governo Federal americano reuniu corações e mentes ávidas por essas mesmas mudanças, e engajou todo um ecossistema em torno de um inédito plano de ataque. Logicamente no espaço desse primeiro post sobre o tema, não será possível discutir ponto a ponto cada passo daquela estratégia, a qual deverá ser no futuro matéria obrigatória para todos que pretendem construir uma leitura clara sobre o momento da saúde no século XXI. Mas para abrirmos um rápido o pano de fundo sobre esse movimento, basta dizer inicialmente que no quadriênio 2011-2015 seguiu-se à risca um Plano Digital de Estado que se desdobrou até aqui em cinco grandes frentes: 1) Adoção e troca de informações através da TI em Saúde; 2) Melhoria da assistência médica e da saúde populacional, e redução dos custos assistenciais através do uso da TI em Saúde; 3) Transformação da TI em Saúde em algo confiável; 4) Empoderamento dos indivíduos, utilizando a TI em Saúde para melhorar a saúde das pessoas e o sistema de saúde como um todo; 5) Atingimento de um aprendizado rápido, bem como de muita rapidez nos avanços tecnológicos. Assim cada um desses pontos, amplamente discutidos com a sociedade organizada, reuniu uma série de ações que, corretamente orquestradas, visam se somar e chegar a quatro objetivos iniciais: 1) Empoderamento dos indivíduos; 2) Aumento da transparência; 3) Melhorias na assistência, na eficiência e nos indicadores de saúde populacional; 4) Aprimoramento das habilidades para que sejam compreendidos e redesenhados os sistemas de pagamentos e de entrega de saúde. Sobre esses diferentes trilhos já passaram até aqui muitas caravanas e, surpreendentemente, em muito pouco tempo: jovens empreendedores, tradicionais investidores, novas aceleradoras, reguladores, provedores, pesquisadores, pagadores, tech trends etc. Como lições iniciais dessa inédita tour de force muito pode-se dizer e, sobretudo, poderá se afirmar ao longo dos próximos anos. Mas dois pontos importantes e que servem de lição para jovens mercados insatisfeitos com a realidade analógica e anacrônica na gestão da saúde já podem e devem ser ressaltados. Uma verdadeira revolução digital tem transformado mercados tão diferentes em sua aparência, mas tão enferrujados em sua essência, como entretenimento, serviços financeiros, turismo, educação e varejo. Agora parece que chegou a hora da Saúde. Sim, também é preciso coragem e uma certa dose de generosidade para enfrentar os conflitos naturais que surgirão pelo caminho, bem como visão de longo alcance e muita gente boa para ajudar na missão. Ninguém faz uma revolução sozinho.