As previsões de Amy Webb na 17ª Tech Trends Report destacam um futuro tecnológico dominado por avanços significativos em inteligência artificial, ecossistemas conectados e biotecnologia. Para a futurista e CEO do Future Today, esses três pilares definem o "superciclo tecnológico", um período de expansão sem precedentes com impactos profundos em vários setores, incluindo a saúde. Alguns estudiosos dizem que o mundo já está vivenciando a Quarta Revolução Industrial, ou Indústria 4.0, com introdução da tecnologia, análise de dados e automação de processos como parte do cotidiano das sociedades. Tecnologias como Machine Learning, IA e Big Data aceleram o processo e ampliam seu alcance, de forma global.
O cenário complexo e dinâmico apresentado por Amy sugere que a sociedade está à beira de uma transformação significativa na forma como vivem, trabalham e cuidam da própria saúde, exigindo reflexão profunda e ação estratégica de todos os envolvidos.
A biotecnologia, por exemplo, é um ponto crítico de atenção para o setor. A exploração da Organoid Intelligence (OI) e da tecnologia de interface cérebro-máquina sugerem um futuro em que as fronteiras entre biologia e novos recursos se tornam cada vez mais tênues. Esta tecnologia faz parte de um grupo também chamado de deeptechs, com o uso de alta tecnologia para resolução de problemas de alto impacto. Esses avanços prometem revolucionar diagnósticos, tratamentos e a compreensão do cérebro humano, além de trazerem métodos para a criação de medicamentos e terapias personalizadas. No entanto, também levantam questões éticas, de privacidade e segurança.
Para lidar com o novo superciclo, o setor de saúde deve adotar uma abordagem proativa, focada em inovação e adaptação às novas tecnologias, enquanto avalia cuidadosamente seus riscos e oportunidades. Investir em pesquisa e desenvolvimento, formar parcerias estratégicas com startups de tecnologia e atualizar constantemente as práticas de segurança da informação são passos essenciais. Também é crucial considerar as implicações éticas em cena, envolvendo comunidades, pacientes e reguladores nas discussões para garantir que os avanços beneficiem a todos de maneira justa e segura. Esta percepção da saúde envolvendo todos os protagonistas do cuidado do paciente, também é chamada de Value Based Healthcare, ou VBHC, que no Brasil significa Saúde Baseada em Valor.
As startups de saúde no Brasil
A posição das healthtechs brasileiras em relação a esse superciclo tecnológico varia. Algumas startups já exploram a inteligência artificial, a biotecnologia e os ecossistemas conectados para oferecerem soluções inovadoras no setor. Porém, há vários desafios, entre eles o acesso a financiamentos, regulações e a necessidade de maior colaboração com o setor público de saúde. Para se manterem competitivas a nível global, as healthtechs devem acelerar a adoção e o desenvolvimento dessas tecnologias emergentes, e se aprofundarem em questões regulatórias e éticas.
A colaboração entre diversas áreas, a formação de um quadro regulatório claro e adaptável e a educação contínua dos profissionais de saúde também são fundamentais. Além disso, é necessária uma atenção especial à inclusão digital e à redução das disparidades no acesso aos avanços, assegurando que os benefícios sejam compartilhados de forma ampla pela sociedade. Afinal, o Brasil é um país de tamanho continental, com diferentes realidades, regionalismos e diferenças sociais, econômicas e culturais.
Por fim, a vigilância contínua contra o uso indevido de dados e a garantia de que as inovações tecnológicas respeitem os direitos dos pacientes são indispensáveis para construir um futuro em que a tecnologia vá ao encontro de pacientes, profissionais da saúde e empresas.
*Rafael Kenji Hamada é CEO da FHE Ventures, que investe em startups de saúde e educação.