Se as preocupações a respeito da chegada do vírus do ebola à Europa e Estados Unidos já não eram suficientes para gerar certa preocupação entre as pessoas comuns, agora é a vez dos profissionais de saúde também questionarem a efetividade dos protocolos de controle e manejo dos infectados. Na última semana, dois profissionais de enfermagem que tiveram contato com doentes, na Espanha e nos EUA, tiveram diagnóstico positivo para doença, apesar dos cuidados bastante estritos que devem ser seguidos para estes casos.
PREOCUPAÇÃO: Conheça os protocolos de segurança contra o ebola
Nos EUA, um profissional do Texas Health Presbyterian Hospital de Dallas, que tratou o liberiano Thomas Eric Duncan, morto pela doença na quarta-feira (8), teve resultado positivo em um teste preliminar do vírus, informou no domingo (12) o Departamento de Serviços Médicos do Texas. Sabíamos que um segundo caso poderia ser realidade e estávamos nos preparando para essa possibilidade, disse o médico David Lakey, comissário do Departamento de Serviços Médicos do Texas.
O profissional de saúde relatou que teve febre baixa na quinta-feira (9) à noite e foi isolado, situação que levou à realização de testes, conforme comunicado dos serviços de saúde do Texas. O paciente não foi identificado, bem como a forma do contágio. Pessoas que tiveram contato estão sendo identificadas e monitoradas.
Já Teresa Romero Ramos, a auxiliar de enfermagem espanhola contaminada, entrou nesta segunda (13) no período de 48 horas considerados decisivos para a sobrevivência, quando se completam 14 dias desde os primeiros sintomas. No domingo (12), o ministério da saúde espanhol informou que ela estava em situação grave, e que a forma como ela passar pelos próximos dois dias é considerada importante para a sobrevivência. Seu estado de saúde, no entanto, se agravou na última noite, segundo fontes ouvidas pela Agência Lusa.
Além de Teresa, de 44 anos, estão hospitalizadas mais 15 pessoas no mesmo hospital de Madri, incluindo o marido da auxiliar de enfermagem, por terem mantido contato direto com ela quando já podia transmitir o ebola.
Reação e preocupação
Na Espanha, a situação levou a criação de um comitê de crise para acompanhar a situação da doença. Entre as pessoas em observação no hospital de Madri estão cinco médicos, um porteiro e quatro enfermeiras da própria instituição. Enquanto isso, o governo espanhol sofre críticas pesadas, principalmente dos profissionais de saúde, sobre como lidou com o primeiro caso da doença.
Inicialmente, as autoridades espanholas afirmaram que a contaminação da enfermeira que tratou diretamente dois padres espanhóis contaminados vindos da Libéria, ambos mortos foi de responsabilidade da própria profissional, dizendo que ela admitiu ter tocado o próprio rosto com as luvas do traje de proteção, informação que ela negou em entrevista ao jornal El Pais. Em visita ao hospital madrilenho, o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, foi recebido por um protesto de médicos, que atiraram luvas cirúrgicas no carro.
Sindicados e a população também criticam a da resposta do governo à crise, considerada lenta. Em resposta, os protocolos de detecção da doença foram aumentados, e a vice-primeira-ministra, Soraya Saenz de Santamaria, assumiu a gestão direta da crise.
Enquanto o ministério da saúde espanhol e as autoridades hospitalares se negaram a comentar, nos EUA o presidente Barack Obama determinou que seja feita o mais rápido possível uma investigação à "aparente" falha nos protocolos de controle de infecção que originou o contágio da enfermeira com o vírus. Segundo a Casa Branca, a secretária de saúde e serviços humanos do país, Sylvia Burwell, foi questionada sobre o contágio no hospital de Dallas.
De acordo com o comunicado, o presidente norte-americano pediu à responsável uma investigação nos centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Autoridades federais de saúde deverão tomar medidas adicionais "imediatas" para garantir que os hospitais do país estejam preparados para seguir os protocolos adequados no tratamento do vírus.
Funcionários enviados a Dallas vão trabalhar com as autoridades locais e estatais para rever os procedimentos de controle de infecções no hospital afetado e o uso de equipamentos de proteção. Autoridades sanitárias por sua vez vão fazer um segundo teste para confirmar se a enfermeira, cuja identidade não foi revelada, está efetivamente contaminada pelo ebola.
Profissionais de saúde são o grupo mais afetado pela doença, sobretudo nos países mais atingidos, com 416 casos e 233 mortes - de acordo com relatório da OMS, estão confirmados 8.399 casos de contágio pelo ebola em sete países (Guiné-Conacri, Libéria, Serra Leoa, Nigéria, Senegal, Espanha e Estados Unidos), com 4.033 mortes. A Libéria, o país mais afetado pela epidemia, registrou 4.076 casos, com 2.316 mortes.