“Para termos um sistema de saúde sustentável e baseado em valor para o paciente precisamos equilibrar um tripé: a satisfação do usuário, a qualidade da assistência prestada e os custos, que devem ser adequados”.
A afirmação foi feita ontem por Fabrício Campolina, presidente do Conselho de Administração da ABIMED (Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde), ao moderar o debate “Quais os segredos para implementar um modelo de Remuneração Baseado em Valor”?
Campolina destacou que a mudança do atual modelo de remuneração de serviços médico-hospitalares – baseado no volume de procedimentos realizados – é um dos instrumentos mais importantes para garantir a sustentabilidade financeira do sistema de saúde brasileiro.
“Se nada for feito, o custeio da Saúde demandará 25% do PIB em 20 anos, o que é inviável”, ressaltou o executivo, lembrando que hoje o país destina 9% do PIB a essa área.
Campolina apontou que é necessário também reduzir desperdícios e fraudes que, segundo estimativas do Instituto de Medicina Americano, comprometem 20% a 25% dos gastos com saúde.
Promovida pelo ICOS-Instituto Coalização Saúde e realizado durante o Healthcare Innovation Show (HIS), a mesa reuniu Francisco Balestrin, presidente da Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp), Reinaldo Scheibe, presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (ABRAMGE) e Daniel Greca, sócio diretor da consultoria KPMG.
Um dos consensos que emergiram da discussão foi o de que o país ainda não está preparado para promover uma mudança rápida no atual sistema de remuneração. Todos concordaram, no entanto, que este caminho é inexorável e sem volta.
“Vamos precisar trocar a roda com o carro em movimento, construir um novo legado ao mesmo tempo em que o mercado amadurece para as mudanças. Para isso precisamos de mais profissionais capacitados em gestão. O paciente também deve entender que, como cidadão, também é responsável pela sua saúde e pela sustentabilidade do sistema”, disse o representante da KPMG.
O presidente da ABRAMGE afirmou que existe hoje uma cisão de informações entre a medicina privada e o SUS e defendeu que o paciente seja o detentor dessas informações e possa carregá-la em todos os atendimentos a que for submetido. Essa seria uma maneira de evitar, por exemplo, a repetição desnecessária de exames e o desperdício.
Já Francisco Balestrin destacou que, embora todos concordem que a mudança é necessária, ainda existe hoje uma assimetria de interesses entre os atores da cadeia de saúde.
“Para chegarmos a uma convergência, precisamos definir qual é o valor que queremos entregar para o paciente. Além disso, o sucesso de um novo modelo passa também por uma melhor organização e gestão do sistema de saúde, pela melhoria da formação dos profissionais que atuam na área e pela redução dos desperdícios”, assinalou o presidente da Anahp.