Certamente a prioridade dos hospitais é a excelência na qualidade do atendimento e assistência médico-hospitalar. Mas é preciso entender que uma boa gestão administrativa pode garantir, além da perenidade da organização, a qualidade no atendimento ao paciente.
Existe hoje no Brasil um movimento de crescimento, consolidação e profissionalização do setor hospitalar. Práticas de gestão como o BSC - Balance Scorecard (ferramenta de medição do desempenho) e Lean Six Sigma (prática de melhoria de produtos e processos), já tradicionais em outros setores, passaram a ser adotadas com sucesso por hospitais. Entretanto, existem ainda outras oportunidades para aprimorar a gestão de unidades hospitalares.
O conceito de gestão de riscos para quem trabalha em hospitais é bastante conhecido e envolve a segurança do paciente e dos profissionais, o correto descarte de resíduos, a disponibilidade de infraestrutura e ações de qualidade e acreditação. Contudo, é importante destacar que existe outra abordagem de gestão de riscos utilizada com excelentes resultados em outros setores como telecomunicações, energia, agronegócio, varejo, transporte e financeiro, mas ainda pouco explorada no setor hospitalar.
Trata-se da Gestão dos Riscos de Negócio, com foco em GRC (Governance, Risk and Compliance), ERM (Enterprise Risk Management), COSO (Committee of Sponsoring Organizations), dentre outras metodologias, que visam ampliar a capacidade de gerar valor aos negócios, garantindo o equilíbrio entre eficiência operacional e proteção dos processos, que podem ser amplamente aplicados à gestão hospitalar. E observa-se uma abertura deste mercado para o entendimento de seus riscos gerenciais como um dos pontos principais a serem considerados para o crescimento sustentável da organização.
Problemas que afetam a gestão hospitalar
Por não darem a devida prioridade à gestão de seus riscos, hospitais estão expostos aos mesmos problemas que a maior parte das empresas: insuficiência de caixa, margens apertadas, indisponibilidade e/ou desvio de ativos, falta de indicadores, ineficiências no processo, falhas e fraudes.
Por isso, é fundamental conhecer e gerenciar os principais riscos da organização, de forma ampla, estruturada e alinhada à sua estratégia, independentemente de ser uma organização com fins lucrativos ou não. A constatação de que um determinado hospital tem oportunidades para aprimorar sua receita passa pelo diagnóstico de problemas nas seguintes áreas:
Cadeia de Suprimentos: cadastros incorretos de itens; compra de matmed (materiais e medicamentos) por valor alto ou condições desfavoráveis; planejamento de compras e de entregas inadequados; gestão de estoques falha e com faltas; desvio de matmed e equipamentos ou indisponibilidade dos mesmos quando necessário; estocagem e gestão de itens fora do padrão.
Operação: cadastro incorreto de paciente e de fonte pagadora; realização de procedimento e uso de “matmed” sem a autorização da fonte pagadora; influência indevida de fornecedores junto aos seus colaboradores.
Composição da conta/faturamento: lançamento incorreto e não lançamento de itens na conta; inconsistência entre procedimento realizado vs tempo de uso do centro cirúrgico e uso de “matmed”; precificação incorreta de itens e procedimentos; glosas e exclusões indevidas; não cobrança e descontos indevidos; desconhecimento dos colaboradores de como tratar as questões administrativas; perda de prazos de recurso junto às fontes pagadoras; registros indevidos.
Gestão: falta, incompletude ou não confiabilidade de relatórios e indicadores de gestão; sistemas inadequados para a operação; sistemas vulneráveis; comunicação interna falha; falta de balizadores corporativos.
Essas situações, que podem gerar ineficiências, danos, perdas e ameaçam o atingimento dos resultados da organização precisam ser devidamente tratadas. Para a identificação e mitigação de riscos, a abordagem da Gestão de Riscos de Negócio é composta por três etapas: 1. Diagnóstico de riscos – etapa de levantamento e entendimento da situação considerando as camadas de processos, sistemas, pessoas, infraestrutura e gestão. Vulnerabilidades e riscos são identificados e classificados; 2. Desenvolvimento das soluções – etapa de definição de soluções e da abordagem para a implantação; 3. Implantação das soluções – detalhamento e implantação de soluções, priorizando as ações de ganho rápido (baixo esforço, benefício alto) e as ações de caminho crítico (em que outras soluções são dependentes para evoluir). A adoção da Gestão de Riscos de Negócio traz eficiência ao negócio, melhoria e preservação dos resultados operacionais e financeiros, valorização da organização, minimização de riscos e aumento de eficiência e segurança dos processos. A abordagem prepara as organizações para prevenir, tratar e gerir continuamente os riscos potenciais presentes na condução e operação dos negócios. * Luis Guilherme Whitaker é gerente executivo de Gestão de Riscos de Negócios e Jefferson Kiyohara é gerente pleno de Gestão de Riscos de Negócios, ambos da ICTS Protiviti, consultoria especializada em Gestão de Riscos, Auditoria Interna, Compliance, Gestão da Ética, Prevenção à Fraude e Gestão da Segurança. **As opiniões dos artigos/colunistas aqui publicadas refletem unicamente a posição de seu autor, não caracterizando endosso, recomendação ou favorecimento por parte da Live Healthcare Media ou quaisquer outros envolvidos nesta publicação