O antigo provérbio que diz “onde tem gente chorando, tem gente vendendo lenço” até que serve para aludir a bagunça que o mosquitinho consegue fazer na saúde brasileira.
É fato:
- A saúde pública está desnorteada, sem nenhuma ação efetiva nos âmbitos dos municípios, estados e união, e “o trem que já está lotado não consegue partir porque tem um monte de gente segurando o fechamento das portas”;
- Na saúde suplementar as operadora33s de planos de saúde ainda não conseguiram assimilar o golpe: cresce a demanda pelas consequências das picadas do mosquito, e eles ainda não conseguem quantificar o quanto isso representa no balanceamento das despesas na sua rede credenciada;
- E como as moedas “têm cara e coroa”, hospitais que servem a saúde suplementar “estão vendendo lenço para quem está chorando”.
E afloram os 2 principais problemas da saúde no Brasil:
- Não existe qualquer coordenação das ações da saúde pública e suplementar – é “cada um pra si e Deus pra todos”, como se dizia nas minhas brincadeiras de infância (como “lasca Romeu !”);
- Os governos, completamente desorientados e sem coordenação, começam a gastar “os tubos” em ações populistas sem qualquer eficácia e efetividade – continuam a tratar a saúde como tratam telefonia celular, empregos ... “não cai a ficha” que saúde pública não é plataforma política ou bem de consumo – nenhuma “canetada” vai ajudar de verdade.
O governo federal, por exemplo, acena com ajuda (bolsa mosquito) para pobres que tiverem filhos com microcefalia. Vai dar voto, claro, mas:
- Esta “mesada” vai compensar 1 % do problema financeiro que estas famílias terão ?
- E quem não se encaixa como pobre, que se vire ? Se a família ganhar R$ 10 a mais do que a que se encaixa já dá pra se virar sozinha ?
- Com será a perícia para que a família comece a receber o “bolsa mosquito” ? A mesma que não funciona no INSS para conceder aposentadoria para quem não consegue trabalhar ?
Me desculpe a ignorância: mas estas famílias realmente preferem ganhar a mesada do que ter uma rede assistencial pública minimamente disponível para a dificuldade que terão ? Que mãe e pai são estes que preferem ganhar a bolsa do que ter seu filho bem assistido ?
Nem os governos estaduais, nem os governos municipais, por exemplo, sinalizam com ações coordenadas para atacar o problema na origem: o mosquito. Seria engraçado se não fosse trágico:
- Eles vêm com a “maior cara de pau” mostrando que estão fiscalizando os criadouros, mas até a divisa da sua jurisdição. Esquecem que o mosquito não precisa de “movimento passe livre” – para ele São Caetano do Sul ou São Paulo é a mesma coisa;
- Alguns ainda reclamam do governo federal, como se existisse alguma “incubadora no planalto central” espalhando mosquito para o resto do Brasil !
Também me desculpando pela ignorância: quem está coordenando focos de cidades vizinhas de estados diferentes ? Será que estas cidades e seus estados estão esperando que o governo federal faça isso ?
A “lambança” não se restringe à área pública:
- Tenho um seguro saúde de mais de 10 anos, e nunca recebi da minha operadora uma "reles mensagem instrutiva" sobre o perigo do mosquito, as doenças que ele pode causar – as operadoras são ridículas a ponto de não perceber que se eu não me precaver quem vai pagar a conta é ela ! Ou será que elas vão reivindicar reembolso do SUS já que o governo federal “assume mea culpa” ao conceder o “bolsa mosquito” ?
- A minha profissão faz com que circule em diversos hospitais privados. Sabe em quantos eu vi uma campanha educativa séria para evitar os riscos com o mosquito ? Eles estão rindo à toa !
Sabe o que sente uma pessoa como eu que está no segmento há tanto tempo, e que teve oportunidade de aprender sobre saúde pública e suplementar com os melhores professores do Brasil, quando ouve que o exército vai ajudar no combate ao mosquito ?
Desânimo !
Não devia comentar para não dar crédito a este tipo de gente, mas uma emissora de TV irresponsável comentou em “tom de crítica” que a FIOCRUZ e o Butantan já deveriam estar produzindo as vacinas. Além do problema, instituições sérias e de credibilidade ainda têm que ouvir este tipo de bobagem: como se fossem culpadas pelo aparecimento das doenças.
Garotos que servem o exército com 18 – 19 anos, sem preparo adequado, segundo instruções (na verdade cumprindo ordens) “sei lá de quem” vão resolver o nosso problema ?
Dengue, Chikungunya e Zica materializam a vergonha que é a saúde no Brasil:
- Governos sempre na defensiva, justificando sua incapacidade de lidar com saúde, e prometendo coisas absurdas;
- Caos na saúde suplementar: gente chorando porque o sistema de financiamento está regrado de forma errada, por quem não conhece o sistema e não deveria se meter na lei da oferta e procura ... e gente ganhando muito dinheiro às custas da completa desorganização do sistema !