O papel do auditor dentro de um cenário hospitalar é, por definição, verificar se a prática aplicada dentro das organizações de saúde está de acordo com a exigente teoria. Assim, a atuação do profissional de auditoria de contas em Saúde não pode ser resumida ao trabalho "meramente operacional, contador de itens de contas médicas e hospitalares", como ressalta a definição feita pela Sociedade Brasileira de Auditoria Médica (SBAM).
A SBAM ressalta o quanto o papel desse profissional evoluiu ao longo dos anos e passou a abraçar uma função cada vez mais analítica, estratégica e desafiadora. "A promoção da melhor assistência à Saúde com custos viáveis é o objetivo principal da auditoria, garantindo a viabilidade financeira dos serviços e dos sistemas de saúde", complementa a organização.
Infelizmente, em muitos hospitais o cenário é outro: a eficiência na auditoria de contas é, muitas vezes, reduzida à simples verificação de dados de prontuários e planilhas a fim de garantir que todas as informações estarão dentro do esperado e alinhadas à realidade para evitar glosas e consequentes perdas financeiras.
Apesar de ser uma tarefa importante dentro de uma instituição, ela definitivamente não deveria se resumir ao que os profissionais da auditoria são contratados para fazer. Nesse contexto, a tecnologia pode ser usada como ferramenta crítica para a transformação da área de auditoria em um setor realmente estratégico para instituições de Saúde.
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Para mudar tal realidade, no entanto, é preciso entender que a tecnologia é aliada e não inimiga. "Percebo uma falta de entendimento sobre o que as tecnologias são capazes de fazer", observa Luciane Mandia, fundadora da LRMG Realidade em Auditoria, além de consultora e palestrante em Auditoria em Saúde.
A especialista acredita que, muitas vezes, o potencial da tecnologia é ofuscado pelo medo do desconhecimento. "As pessoas acham que a ferramenta vem para substituí-las, por 'estar fazendo exatamente o que eu faço', mas não é bem assim".
Esse ponto de vista é corroborado por Glauce de Almeida Brito, gerente de Contas Médicas e Cliente Particular do Hospital Israelita Albert Einstein, além de docente de pós-graduação de Auditoria e Serviços em Saúde e Cirurgia Robótica da mesma instituição.
"A adoção da tecnologia permite reduzir o trabalho do pessoal de auditoria que, por sua vez, passa realmente a usar conhecimento para fazer algo estratégico", afirma Glauce, que também é enfermeira. Para ela, o fator humano é crítico para manter o funcionamento das instituições de Saúde e agregar conhecimento técnico e tático às demandas do dia a dia.
A tecnologia a serviço da Saúde
Como, então, as soluções tecnológicas poderiam auxiliar no dia a dia, trazendo eficiência para a auditoria de contas? As especialistas apontam alguns exemplos práticos.
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Padronização de informações e segurança
Já comentamos o quanto a padronização é importante para a área da Saúde e o quanto a tecnologia pode ajudar nesse quesito, sendo um ponto-chave para auxiliar o dia a dia dos auditores. Adotar tecnologia na rotina hospitalar significa passar o que está em papel ou na cabeça das pessoas — informações estas que podem ser facilmente extraviadas ou deterioradas — para o eletrônico. Essa mudança, por si só, já traz mais segurança à informação que ficará alocada em uma plataforma que garante a proteção e a privacidade desses dados.
Como ressalta Luciane, é comum aos hospitais possuir um enfermeiro especialista responsável por fazer a parte administrativa de ler o prontuário do paciente e verificar se os itens descritos condizem com o lançado em conta. Esse processo, no entanto, é feito muitas vezes de forma manual, ou seja, o risco de perda de informações no caminho é bem maior.
Mas considerar que digitalizar dados é a única forma de auxílio que a tecnologia pode trazer para a instituição de Saúde é ser simplista. Com a inteligência artificial, é possível ir muito além, promovendo mudanças mais práticas e assertivas.
"Se o sistema identifica divergências, ele pode, por exemplo, emitir uma notificação para que o profissional humano verifique se, de fato, o que está sendo executado está correto", explica Charles Trevizan, fundador da Dynamix e um dos criadores do Dr. Marvin, software de análise de contas e auditoria médica. Assim, o trabalho do especialista fica mais eficiente.
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O auditor como ativo estratégico no hospital
"Quando a pessoa tem medo daquilo que ela acredita ser um possível substituto para o seu trabalho, é porque ela não entendeu a sua própria importância dentro daquele cenário", diz Luciane. Essa afirmação diz muito sobre o quanto o papel do auditor poderia ser muito mais explorado em prol do atendimento do paciente, algo que vai muito além de funções administrativas e da checagem de informações.
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Criação de valor para outras áreas
Muitas vezes há conflitos entre contratos fechados pelo comercial com operadoras de saúde, por exemplo, e o que o hospital realiza na prática. O auditor, nesse contexto, pode auxiliar o comercial a entender exatamente o que está sendo combinado com operadoras, trazendo insights que possam auxiliar na composição de acordos. "Algo muito mais estratégico e nobre do que contar seringa e agulha manualmente ou verificar se o que está na dispensação é o que de fato foi lançado em conta. Tudo isso, um robô pode fazer", explica Trevizan.
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Aumento da qualidade no serviço prestado ao paciente
Complementando a ideia anterior, uma vez que as informações são padronizadas e os documentos (como o prontuário) estão digitalizados, a tecnologia pode assumir tarefas repetitivas e que tomam tempo do auditor, enquanto o especialista foca em análises mais estratégicas, que agregam valor ao serviço.
Na prática, soluções de automação e baseadas em inteligência artificial podem expandir as capacidades dos auditores, aprimorando de forma revolucionária a qualidade do trabalho prestado por esses especialistas.