Estiveram presentes no primeiro painel o Dr Carlos Suslik, Diretor em Gestão de Saúde da PwC; o Diretor de Projetos Estratégicos da Merck-Sharp-Dohme (MSD), João Sanches; o Dr Claúdio Schvartsman, Vice-Presidente do Hospital Israelista Albert Einstein (HIAE); o Diretor da Divisão de Imagem e Terapia da Siemens Healthcare, Fernando Narvarz; e Walban Damasceno, Diretor de Assuntos Corporativos e Relações Governamentais da BD.
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Dois dos principais assuntos do lado médico hospitalar foram a regulação e a inflação, que preocupam a indústria nacional de forma consistente. Walban, da BD, reforçou que a demora para registro de novos equipamentos no Brasil (de 3-4 anos muitas vezes), diminui a competição entre as empresas (pois retarda a entrada de novos produtos no mercado), o que enfraquece as pressões para queda de preços.
João Sanches, da MSD, reforçou a dificuldade de se fazer negócios no Brasil, com o exemplo de que a estrutura contábil da MSD no Brasil é maior que todo o restante da operacao contábil na Amárica Latina, devido a complexidade e carga tributaria brasileira, o que diminui os lucros das empresas (consequentemente o dinheiro pra reinvestimento e inovação), e consequentemente, é outra pressão contra a diminuição dos custos / preços da saúde no Brasil.
Fernando Narvarz, da Siemens, mostrou um gráfico que mostra que a maioria dos custos de saúde no país está concentrado em terapêutica, e menores partes para diagnóstico, prevenção e cuidados. Isso tem uma relação muito forte com a ênfase que o Dr Claudio Schvartsman, do Einstein, deu para o diagnóstico correto, dando o exemplo do diagnóstico de infecção urinária em pediatria, no qual hoje o conhecido saco coletor, perdeu seu papel no diagnóstico correto. Infelizmente, muitos lugares ainda usam o saco coletor, o que leva a um diagnóstico errado, que tem como consequência o gastos com antibióticos para tratamento, ultrassonografia pra avaliação de possíveis mal-formações urinárias ou outros distúrbios, antibioticoterapia por mais tempo pra profilaxia etc, custos que poderiam ser economizados caso o diagnóstico fosse realizado da maneira correta.
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O painel seguinte, também moderado pelo Dr Carlos Suslik da PwC, foi aberto pela Profa. Ana Maria Malik da FGV/GVSaúde. Malik disse que, se estratégia nao é fazer o que os outros estão fazendo, estrategia é então fazer diferente, correlacionando estratégia e inovação, e discutindo como inovar. Continuou dizendo que inovação pra crescer no Brasil nao é nada mirabolante, e sim que ter boas práticas de gestão e qualidade já é uma inovação significativa no cenário brasileiro.
Ela mostrou uma pesquisa (Brito et al, 2013) comparando vários hospitais de São Paulo de médio e pequeno porte realizada em seu centro. Na fase de avaliação qualitativa, percebeu-se que os hospitais realizavam todo tipo de procedimentos e atividades, numa amostra inicial de 230 hospitais privados, que foram avaliados em seus critérios de gestão. Foram consideradas práticas de administração conceitos básicos de gestão como gestão de fluxo de caixa, folha de pagamento e controle de estoque). Com notas de 2-5, a média dos hospitais foi de 3,67.
O estudo mostrou que os maiores hospitais da amostra e considerados de excelência eram os que tinham mais práticas de gestão e pontuaram mais alto no score. Entre os hospitais com as piores notas, suas piores notas estavam no critério de retenção de talentos, mostrando que os talentos preferem trabalhar em locais com boas práticas de gestão. Com o slogan “Desapega do Álcool Gel”, a professora enfatizou que as pessoas estão muito preocupadas com micro-gestão e coisas sem grande impacto e deixando a gestão real de lado.
Em seguida, subiu ao palco Néstor Casado, CEO da Capital Invest M&A Advisors, presidente do Alumni Brasil do INSEAD. Mostrou que de acordo com as estatisticas, em 2016, o Brasil sera o 4o. maior mercado de saúde do mundo, atrás de Estados Unidos, China e Japão. Ele discutiu a maneira que as empresas estrangeiras entram no Brasil, mostrando que as empresas de maior sucesso entraram por M&A (adquirindo uma empresa local), em vez de por crescimento orgânico.
As origens mais comuns dos “compradores” foram Estados Unidos (um terço), e países europeus, com uma pequena participação de asiáticos. 55% foram transações majoritárias (em que se adquire o controle da empresa), 32% forma minoritárias e o restante se dividiram em outros tipos.
Destacou que os custos da saúde no Brasil tem crescido 15% ao ano, principalmente por aumento da renda per capita, que cresceu quase 50% de 2001 pra 2011; melhor distribuição de renda e diminuição da taxa de desemprego. Além disso, a população de idosos que era de 14 milhões passará para 30 milhões de pessoas em 2020. Apesar disso, os gastos per capita em saúde no Brasil ainda são 12 vezes menores do que nos EUA e 8 vezes menores que o Japão, por exemplo.
Em seguida, o Dr Gonzalo Vecina iniciou seu discurso falando sobre uma questão crítica e de recentes debates importantes no Brasil: o número de médicos. Explicou o conceito de massa crítica dando o exemplo de espermatozóides:”a natureza produz milhões de espermatozóides pra apenas um ser bom o suficiente, porque temos que produzir apenas os médicos necessários?”.
Disse que a sociedade não funciona sem Estado, mas que o Estado não tem que fazer, mas sim garantir a entrega, com função de regulação, que muitas vezes significa indução. “Estamos passando por um novo surto de nacional desenvolvimento xenófobo.” e “Precisamos destravar a ANVISA” foram alguns dos principais pontos levantados pelo Dr. Vecina. “A ANVISA tem que servir a dois deuses: o deus Asclépio, deus da medicina; e o deus Hermes, deus do comércio”.
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“Temos que ter coragem de discutir a indústria e o lucro na saúde. Se estiver regulado, pode lucrar. Mas nós temos vergonha, não discutimos. A demissão de cargos públicos em áreas não-essenciais. A meritocracia nas universidades públicas. Esse tipo de coisas que torna o país um país melhor, e precisam ser discutidas”.
O Dr. Gonzalo Vecina reforçou que nos EUA muito se discute saúde e qualidade de vida porque sabem que saúde é o segundo custo mais importante envolvido na produção de qualquer produto. “Aqui deixamos o bicho correr solto”. Criticou que o PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional) não serve pra nada no Brasil pois os gestores não se preocupam com a saúde. “Se ficou doente a gente troca. Por isso é tão baixa a retenção de talentos, como mostrou a Profa Ana Maria Malik. O laissez-faire está dando certo por enquanto”. Reforçou ainda que o PCMSO pode ter diversos usos para programas de saúde e bem-estar. “Existem mais opções do que contratar um plano de saúde barato que vai mandar os pacientes para um hospital de terceiro nível”.
Gonzalo falou ainda da sobreposição de sistemas de saúde:”Somos uma sociedade que sobrepõe sistemas de saúde. Todos pagamos pelo SUS, e ainda pagamos pelo plano de saúde privado. Os planos tinham que ser complementares e não suplementares. Metade do que chamamos “custo-brasil” é na verdade custo de inclusão social. Todas essas são questões não discutidas”.
Por último no painel, Renato Porto, Diretor da ANVISA, disse que era importante olhar a ANVISA por 3 esferas: 1. a esfera da segurança sanitária; 2. a esfera da segurança regulatória 3. a esfera do custo regulatório.
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Renato comentou que a ANVISA amadureceu muito desde a sua criação (a ANVISA foi criada por e teve como seu primeiro presidente o palestrante anterior, Dr Gonzalo Vecina), se modernizou, criou processos, e necessita continuar se adaptando as constantes mudanças. Reagindo às críticas para “destravamento” da ANVISA, disse que a ANVISA participa do movimento Brasil Competitivo, exatamente para se tornar mais eficiente. Disse que como parte de algumas mudanças recentes é o fato de todos os novos servidores visitarem plantas fabris em seu período de treinamento pra conhecerem mais o que fazem.
Fazendo um paralelo com a palestra de Néstor Casado, comentou que infelizmente a lentidão das aprovações da ANVISA ainda é um indutor de M&As no Brasil pois é mais rápido adquirir uma empresa com fábrica já aprovada do que tentar conseguir a aprovação de uma nova planta (em média, 3 anos, pra entrar no Brasil). “Queremos continuar a ser um indutor de novos M&As, mas por diferentes razões”.
A AMCHAM mais uma vez se mostrou preocupada com importantes questões do setor e se cercou dos players certos para tais discussões.