Dando sequência ao post sobre empresas gringas que oferecem soluções tecnológicas para saúde e bem-estar dos idosos, vejamos agora o caso da GeriJoy, da HomeTouch, da Independa e da OpenPlacement.
GeriJoy
“O futuro da medicina é um cachorro falante”. Assim Victor Wang, CEO da GeriJoy e ex-aluno do MIT, terminou sua apresentação na conferência TedMed (veja abaixo). Explorando o benefício afetivo gerado pela relação entre humanos e animais, a empresa se preocupa com o bem-estar psicossocial dos idosos. Acontece que o animal, no caso, é uma pessoa que está do outro lado do planeta – nas Filipinas, para ser exato –, e que conversa com o idoso se apresentando sob a forma de um cãozinho. Segundo Wang, o trunfo do software, desenvolvido para rodar em tablets, não está apenas na recepção de cuidado pelo idoso, mas também no efeito benéfico do cuidar, já que o pet pode até ter a cabeça coçada, reagindo ao carinho recebido. Entre outros features, encontra-se o fato que os diferentes cuidadores que podem assumir o avatar-cachorro vão reportando seus turnos de interação com o idoso em um portal, mantendo o familiar responsável a par da interação. Com uma interface simples, a GeriJoy oferece até 1000 minutos de atenção e companhia por fixos US$99/mês. Menos que o preço de um cuidador presencial, e sem as demandas que um pet exige.
Outra empresa com foco no bem-estar psicossocial dos idosos, a HomeTouch oferece uma plataforma virtual que permite organizar a rotina de oferta de cuidados e mantém o idoso conectado aos familiares mesmo à distância. Os benefícios pretendidos vão desde a viabilização do aging-in-place (tese defendida por muitos profissionais gerontólogos de que a permanência do idoso em sua residência e/ou vizinhança é preferível a seu deslocamento durante fases de transição, como a de um aumento na necessidade de cuidados) ao evitar do isolamento social, sabidamente um fator de risco para demência e diminuição da expectativa de vida. Integrando features não-médicos, como álbum de fotos e videocall, a ferramentas como canal de contato emergencial com equipe médica e reminder de rotina medicamentosa, a HomeTouch oferece um período gratuito de teste, passando a cobrar $39 libras (a base de operação é o Reino Unido) com a contratação do serviço.
Tendo em poucos anos de existência já acumulado prêmios e reconhecimentos por seu caráter inovador, a Independa é uma empresa cujo foco reside na viabilização da moradia independente para idosos. Em outras palavras, seu objetivo também dialoga com a ideia de aging-in-place. Serviços de sofisticada complexidade técnica, como dispositivos de domótica orientados à saúde (sensores remotos instalados na casa para monitoramento da saúde e do grau de atividade do habitante) unem-se a um aplicativo pelo qual o familiar acompanha a situação do idoso à distância. Temos ainda Angela, um sistema operacional que roda em tablets e televisões, oferecendo vídeo chat, e-mail, jogos, reminders de rotina medicamentosa, compartilhamento de fotos, entre outros features. Embora seus produtos sejam voltados para o usuário final, a Independa se considera uma empresa B2B, negociando com prestadores de serviço de home care, operadoras de saúde e senior living communities (comunidades residenciais voltadas a atender as necessidades de idosos).
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O negócio da Open Placement é a providencial e necessária informação, tão importante quando de uma situação em que as necessidades médicas exigem um serviço residencial adequado, serviços de acompanhamento, enfermagem ou de home care. São oferecidas informações sobre cuidadores e sobre como identificar corretamente os níveis de cuidados requisitados pelo idoso. Gratuitamente. A empresa, no entanto, não tem como foco apenas facilitar a vida de familiares, pacientes e discharge planners (profissionais que se ocupam de organizar a transição de um paciente que passa de um grau de cuidado para outro, maior ou menor). A Open Placement funciona como uma vitrine para os cuidadores, conectando a cadeia de prestadores de serviços aos consumidores diretamente, sendo os primeiros a fonte de receita da empresa (ao pagar por anunciar seus portfolios e perfis). Os cuidadores cadastrados recebem reviews e avaliações de desempenho dos clientes, no melhor estilo “redes sociais”.
Conforme comentei no post anterior, se na oferta de serviços ortodoxos o campo da saúde do idoso no Brasil já é pequeno (um cálculo sugere que tínhamos um déficit de 5 mil geriatras no Brasil em 2010), tanto mais isso se nota quando se trata de um serviço que inova pela agregação de valor por meio de tecnologias. O que apresentei até aqui foi, então, um pequeno mapa desse mercado fora do Brasil, para começarmos a ver quais são as tendências onde há mais casos concretos. Para isso, tentei categorizar o tipo de serviço prestado, e achei similaridades. Um fato interessante é que o principal beneficiário (a quem chamei de “foco do serviço”) pode não ser, necessariamente, o idoso (ou receptor dos cuidados), mas também o cuidador.
Ao cuidador a informação é a principal “matéria-prima” oferecida, e ao receptor do cuidado, o serviço de saúde (clínico e psicossocial) propriamente dito. Sabendo que todas as empresas pesquisadas operam pela Internet, as que se especializam em oferecer informação de qualidade ao cuidador prescindem de maiores especificidades técnicas, ao passo que as outras integram ainda mais valor tecnológico ao serviço (como a Independa, com a domótica, e a Care at Hand, com os algoritmos que relacionam as observações de um não-especialista com dados clínicos analisáveis).
O Reino Unido, sede da HomeTouch, e os EUA, sede de todas as outras empresas, têm, respectivamente, 22% e (algo em torno de) 18% de sua população com mais de 60 anos. Atualmente, esta taxa para o Brasil está em 11%. Um país passa a ser considerado envelhecido quando tem mais de 14% de sua população acima de 60 anos. Ou seja, estamos quase lá. Será que esperaremos chegar a este limiar para desenvolvermos adequadamente nosso ambiente de negócios para o mercado de saúde do idoso?
Um abraço.