Até que ponto a especialização em arquitetura é relevante? Há vários aspectos nesta questão que precisam ser considerados. Mas, sem dúvida, esta é uma tendência que tem crescido e estimulado muitos arquitetos e gestores da área a repensar seu foco de trabalho. Pois, cada vez mais se exigem qualificações direcionadas para nichos de mercado que antes eram explorados por todos.
Se analisarmos o setor de saúde podemos ter um bom exemplo desta mobilização. Nos últimos anos se tem absorvido a alta tecnologia, disponível em diagnósticos e tratamentos. E, na vertente contrária ao emprego de tecnologia, corre-se o risco de deixar para um segundo plano e tornar frio e calculista, o relacionamento profissional-paciente ou instituição-paciente. O que é um equívoco. Afinal, a gestão da arquitetura em saúde deve oferecer aos clientes, pacientes e acompanhantes, serviços que agregam valor a um momento gerador de tensão, estresse e até desconforto. Por isso, o projeto arquitetônico pode e deve interferir para tornar esse ambiente mais acolhedor. O desafio é otimizar custos, em espaços práticos e aconchegantes para o cliente, e funcionais para a equipe de trabalho, sem abrir mão da qualidade e dos conceitos sustentáveis.
Apesar do conceito de hospitalidade agregar aspectos intangíveis ao atendimento que o cliente não percebe, mas que criam uma maior sensação de bem-estar, a hotelaria em saúde se reflete também em aspectos bem tangíveis como a valorização do design de interiores, do conforto visual e acústico, a boa iluminação e o uso de alta tecnologia, que passa pelo conforto, praticidade e qualidade. Daí a hospitalidade só será completa quando se unir estas duas percepções e o investimento em espaços humanizados e hospitalidade, além de uma tendência, passa a ser um diferencial e pode representar a redução do desperdício, aumento da qualidade de serviços e consequente fidelização do cliente. Um centro diagnóstico ou hospital tem que ser bom e parecer bom para transmitir a sensação de segurança e bem-estar.
E aí voltamos para a questão inicial: a especialização dos profissionais se torna crucial na arquitetura em saúde. Por quê? É simples responder. Os erros mais comuns nesta área são a falta de conhecimento do setor. É preciso entender muito bem a atividade e as normas que regulamentam o segmento, que são bastante complexas.
Se considerarmos que edifícios de assistência à saúde são empreendimentos que exigem grandes investimentos na construção, na compra de equipamentos e, principalmente, na manutenção dos custos operacionais, esses valores crescem proporcionalmente às transformações construtivas executadas sem planejamento. Problemas iniciais de projeto, decorrentes de soluções arquitetônicas inadequadas são agravadas ainda mais com as ampliações em função do aumento da demanda e o acompanhamento de novas tecnologias e equipamentos. Além disso, o aparato tecnológico se confronta com o desafio de orçamentos cada vez mais enxutos. Porém, é possível desenvolver projetos que aliem simplicidade, inteligência e baixa manutenção com custos razoáveis.
Enfim, o arquiteto, quando especializado, compreende melhor a demanda e debate o programa em paridade de conhecimento com seu cliente, ganhando tempo e somando experiências. O setor de saúde é complexo e altamente regulamentado, portanto, o arquiteto deve conhecer e aplicar as diversas legislações pertinentes, que incluem as exigências da Vigilância Sanitária, Prefeitura Municipal, Bombeiros, certificações, assim como a própria operação do negócio medicina. E ainda, dependendo da complexidade e da expectativa do cliente, será necessário ou não formar uma equipe de profissionais de múltiplas disciplinas que farão os projetos complementares. A arquitetura é o ponto de partida e de chegada para todos os projetos e, no setor de saúde, é determinante para a humanização, melhorando as condições dos usuários e contribuindo com o próprio tratamento do paciente.
*Antonio Carlos Rodrigues - arquiteto, sócio-diretor da ACR Arquitetura e Planejamento. ac.rodrigues@acr.arq.br